O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

26 Diário da Câmara dos Deputado»

que o radicalismo republicano seria pôsto em prática, trazendo-nos a felicidade.

E então ocorre-me preguntar: qual é o estofo radical dos homens do Govêrno?

Se somos vítimas de um bluff é necessário desmascará-lo.

Vou fazer preguntas muito concretas ao Sr. Presidente do.Ministério. S. Exa. vem dizer-nos que o seu passado já o esqueceu, que o seu radicalismo o deixou na rua e que é conservador como qualquer Govêrno conservador.

Mas como os boatos, a atmosfera criada, o que por aí corre de boca em boca, são a negação absoluta dêste programa, eu tenho fortes razões para crer que se oculta alguma cousa de sinistro e de gravemente comprometedor para a vida da Nação.

Diz-se que o Govêrno não quis no seu programa ferir os melindres, as susceptibilidades daqueles que ainda à ordem prestam um grande preito, uma obediência absoluta e completa.

Mas, Sr. Presidente, que ordem é esta em que, depois de assistirmos à dissolução da Polícia de Segurança do Estado, — que não é da segurança dos Governos - nós vemos oficiais que estão por homenagem gozando de liberdade em Lisboa, e que voltaram a exercer funções policiais?

Pois então não será, porventura, suspeito para nós, homens de ordem, o aplauso caloroso que ao Govêrno presta hoje o jornal A Batalha, órgão do socialismo português?

O Sr. Sá Pereira: — E é caso para o Govêrno se felicitar por isso.

O Orador: — Que o Sr. Sá Pereira se felicite com o elogio que o jornal A Batalha presta ao Govêrno não admira nada e representa apenas coerência da sua parte.

S. Exa. é faccioso, mas é um homem honrado, que honradamente sempre tem defendido as suas doutrinas, muitas vezes com a desaprovação da Câmara inteira.

É com muito prazer que presto a S. Exa. as minhas homenagens, não fazendo mais, com estas minhas palavras, do que prestar culto à verdade.

Mas, para mim, homem de ordem, e que se torna suspeito êste apoio das classes que negam a existência do Estado, que o combatem e não o admitem, ao Govêrno do Sr. José Domingues dos Santos.

É preciso que a Câmara ouça ler o que se diz em A Batalha.

Leu.

Ora, Sr. Presidente, desde que aqueles que negam, a existência do Estado confiam absolutamente no Govêrno do Sr. José Domingues dos Santos, ao ponto de dizerem, como nunca disseram a nenhum Govêrno da República, que êle fará todo o possível por cumprir o seu programa eu pregunto se não é para estarmos todos de sobreaviso e exigirmos ao Sr. José Domingues dos Santos que nos diga claramente o que há de verdade nisto tudo.

Sr. Presidente: não é segredo para ninguém que o Sr. Presidente do Ministério, por mais de uma vez na organização dêste Ministério, desistiu de o formar; e sabemos mais que devido à tenacidade e insistência de dois Cirineus, se segurou a tudo para poder ir àquelas cadeiras e fazer o que vamos ver.

O que poderá fazer o Sr. José Domingues dos Santos numa política radical?

O Sr. Presidente do Ministério, sem desprimor pára S. Exa. e sem pôr em dúvida as suas qualidades pessoais — porque não tenho direito de o fazer — como político, tem sido um homem que não tem hesitado nos processos para chegar àquele lugar.

Mas o que é mais grave é que, levado àquele lugar, está neste momento entre a espada e a parede.

Ou confessa que não cumpre o que promete ou há-de confessar que cumpre e responder às perguntas que vou fazer.

Escolheu o Sr. José Domingues dos Santos, porventura, os seus colegas do Ministério entre os radicais que vivem no seu Partido ou vivam cá fora?

Vejamos: o Sr. Ministro da Justiça é um homem que teça vivido a sua vida na magistratura: e até hoje não sabemos que, por escrito, ou por palavras, se tenha pronunciado sôbre tais ideas radicais.