O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 4 de fevereiro de 1925 15

Vê-se que se tinha procurado a relação entre os preços do trigo, da farinha e do pão, única maneira, evidentemente, de se conseguir que todos, com lucros limitados, pudessem de facto colocar os produtos da sua terra ou os produtos da sua indústria.

Tomou conta do Poder o actual Govêrno, e como um dos elementos com que êle pretendia actuar era o da habilidade do pão, fez esta cousa simples: reduziu o preço das farinhas e reduzi u o p reco do pilo,

Interrupção do Sr. Tôrres Garcia.

O Orador: - O necessário era que o pão fôsse mais barato.

Nesse propósito, deminuiu-se o preço nas farinhas e o do pão.

Quem perde?

Nesta primeira operação perde a moagem. Ninguém com isso se importa.

Não sou eu também que tomo o papel de defender a moagem.

Não quero!

Mas, Sr. Presidente, feito isto, surgiu, como não podia deixar de surgir, o caso de a moagem deixar de comprar o trigo, que era a 1$80 cada quilograma, visto ter deminuído o preço das farinhas, que havia sido fixado correspondentemente àquele. E como tudo traz consequências, dessa atitude da moagem vem a situação de se encontrar ela sem nenhum stock: do artigo.

Pois é quando a moagem tem esgotados os stocks, que já não tem por onde perder, que o Govêrno se lembra de que se poderia ver na contingência de não ter farinha para fazer pão.

Então surge esta cousa formidável: chama-se a moagem e combina-se com ela o aumento do preço da farinha. Por uma portaria surda, que não veio ao Diário do Govêrno, autorizou-se a moagem a vender mais cara a farinha.

Sucede que a farinha vendida mais cara não pode ser manipulada pelos padeiros independentes, que não têm moagem, som prejuízo para êles.

Estava então assim reduzido o fabrico de pão, em Lisboa, às padarias que pertencem à moagem, pois que só esta pode cobrir-se do prejuízo do pão pelos resultados da venda da farinha.

Não era em todo o caso compensadora para ela essa vantagem.

O que faz o Sr. Ministro da Agricultura?

Isto, que é simples: suspende toda a fiscalização às padarias e telegrafa para o Pôrto ordenando que essa fiscalização também ali fique suspensa, a exemplo, diz-se no telegrama, do que se pratica em Lisboa.

Mas há mais.

O Sr. Ministro da Agricultura foi procurado por uma comissão de padeiros independentes, dos tais que não têm moagem, que lhe declarou que era impossível manter o preço do pão, ou que, para manter êsse preço, era necessário deminuir o preço da farinha.

S. Exa. respondeu o seguinte: "Eu não posso consentir no aumento do preço do pão, nem na deminuição do preço da farinha, mas vocês têm em resumo: roubem no pêso, e, assim, em cada pão de 500 gramas furtem 35 gramas"!

Sr. Presidente: que o Sr. Presidente do Ministério não me responda é-me indiferente; direi no emtanto ainda à Câmara que essa comissão que se avistou com o Sr. Ministro de Agricultura, que se avistou na Câmara com vários parlamentares e que se avistou comigo, afirmou ter ouvido ao Sr. Ministro da Agricultura o seguinte:

"O pão subiu de preço em todo o mundo, aqui era indispensável fazê-lo subir também; por mim estaria disposto a consentir isso, mas há quem mande mais do que eu".

Sr. Presidente: é muito aproximado a 150 o número de padarias independentes em Lisboa, e essas padarias, não querendo praticar o roubo que lhes foi aconselhado pelo Sr. Ministro da Agricultura, nem querendo seguir a forma de misturar farinha de primeira com farinha de segunda - outra modalidade também aconselhada por S. Exas. - resolveram não fornecer pão a Lisboa.

Em consequência disto as padarias da moagem são as únicas a fabricar pão, com o roubo que lhes foi aconselhado pelo Sr. Ministro, o apenas com a diferença de roubarem em vez de 35 gramas em cada pão do 500 gramas, 50 ou 70 gramas, tendo a garantia de que não há fiscalização da parte do Govêrno.