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Sessão de 10 de Fevereiro de 1925 21

O Sr. Agatão Lança: - Mas não se deve dizer uma cousa e depois fazer outra!

O Orador: - Eu estou a dizer a verdade, e se V. Exa. tem elementos para provar o contrário, desafio-o a que o faça.

Sr. Presidente: as palavras que se dizem em defesa do povo e do Estado não têm grande repercussão aqui dentro. Dir se há que uma liga satânica se fez contra os interêsses da Nação, e agora, que as eleições estão perto, vá de amolentar verdades o liquefazer energias.

Risos nos lábios, porque os senhores das fôrças económicas ainda têm votos para dar!

O Sr. Agatão Lança: - Se V. Exa. julga que nos atira com as fôrças económicas à cara, engana-se.

Eu não sou advogado, nunca recebi nada das fôrças económicas, e V. Exa. talvez já tenha recebido como advogado.

Nunca me vendi.

O Orador: - 0nde é que V. Exa. ouviu a palavra vendidos, no meu discurso? Onde ouviu mesmo qualquer palavra que fôsse indigna desta Câmara ou de mim?

O Sr. Agatão Lança: - Dizem-se lá fora!

O Orador: - Mas que tenho eu com o que se diz lá fora?

Eu sou advogado, tenho uma profissão liberal, não conheço o Estado. Mais feliz é V. Exa., que se amanhã precisar do Estado, por se ter incapacitado, êle o protegerá, e eu, que tenho uma profissão liberal, onde a gente não pode preguntar pela política de cada um, onde exclusivamente o contrário é que se faz...

O Sr. Agatão Lança: - A V. Exa. que está tam exaltado, que parece que está a pleitear uma causa como advogado, devo dizer que conheço o Estado porque tirei um curso para servir o mesmo Estado.

Apoiados.

Entretanto, posso dizer que o Estado não me paga dignamente.

Apoiados.

Mas desafio a que V. Exa. prove que eu tenha recebido, ou alguém da minha família, alguma cousa do Estado sem o merecermos.

Apoiados.

O Orador: - Sr. Presidente: quis o Sr. Agatão Lança tirar efeitos da sua situação de republicano. Não quero comparações.

O Sr. Agatão Lança (interrompendo). - Não se pode comparar!...

0 Orador: - Todos os homens de bem se podem comparar, e eu, simplesmente quero dizer que, apesar de ter um curso só de 12 anos, reconheço que o Sr. Agatão Lança recebe os seus vencimentos do Estado porque lhe são devidos.

Nunca pus isso em dúvida. Eu nunca, com as minhas palavras, quis atingir o Sr. Agatão Lança, e muitas vezes tenho dito que nesta Câmara tenho, apenas, três amigos, um dos quais é o Sr. Agatão Lança.

Todos os outros são meus conhecidos.

Ápartes.

Sr. Presidente: urge, de facto, que a orientação dos Governos da República seja no sentido o mais democrático.

Então há alguma cousa do mais reacionário do que aquilo que nos últimos tempos da República se tem feito?

Basta citar como exemplo, Sr. Presidente, que, quando tudo aconselhava a que se criassem tribunais de 2.ª instância, com recursos especiais, para resolver os acidentes no trabalho, os Ministros da República extinguiram a maioria dos tribunais de desastres no trabalho.

Porquê? Porque era uma conquista da República.

E ainda são capazes de dizer que isto é fazer democracia.

Como V. Exas. vêem, eu quis focar o momento que passou, quis mostrar a falta de protecção de que o Estado tem sido vítima e os receios de certos carinhos suspeitos.

Mas o que não posso compreender é que por um caso da rua, porque o Presidente do Ministério do meu País, para aplacar o povo, pediu que retirasse em paz, porque as armas da guarda republicana não foram feitas para fuzilar o