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24 Diário da Câmara dos Deputados

Eu recebo sessenta e tantos escudos por cada dia que venho ao Parlamento. Não tenho um palmo de terra, e naquilo que entendo sou um bom e honrado defensor do povo, sem praticar desonestidades, sem lisonjas, sem o iludir com propostas falazes, que estilo fora do âmbito social em que vivemos.

Se as declarações do Sr. Presidente do Ministério, no capítulo da ordem pública e da harmonia das classes, não resultarem prontas e claras, não poderei dar-lhe o meu apoio. Pelo contrário, se V. Exa. como é timbre do seu pausado, afirmar e demonstrar que está sendo vítima de calúnias, estou absolutamente disposto a dar-lhe o meu concurso.

Mas, se êste debate é inoportuno, segundo uns, e malévolo, segundo outros, por ter uma feição política, eu julgo da maior necessidade esclarecer-se esta questão, não indo mais para a frente, porque, em minha opinião, se o fizermos, entendo que não praticamos um acto útil ao País.

As democracias, para se fortalecerem, devem colocar nos lugares da administração do País homens que compreendam as responsabilidades dêsses lugares. Não é qualquer que pode ser representante do povo, não é qualquer que pode ditar dêste alto cenáculo a lei, porque é preciso que essas pessoas tenham uma cultura que lhes permita ter o conhecimento exacto do que representam.

Não é berrando nem agitando problemas cuja solução não esteja prèviamente estudada, que se presta bom serviço ao País.

Isso ofende a inteligência, que ainda é uma das grandes faculdades do homem.

Se não entrarmos pelo caminho da clareza, a catástrofe é irremediável. Essa clareza de processos vai o Sr. Presidente do Ministério dizê-la à Câmara, e suponho que o momento é bem grave para que alguém deixe de acreditar na sinceridade das suas palavras.

Depois podemos seguir tranquilamente, e republicanamente, no caminho das realizações, dando ao País aquelas finanças de que ele tanto necessita.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente: - Vou interromper a sessão para recomeçar às 22 horas.

Está interrompida a sessão.

Eram 19 horas e 50 minutos.

Ás 22 horas e 10 minutos reabre-se a sessão.

O Sr. Presidente: - Está reaberta a sessão. Continua o debate sôbre o negócio urgente do Sr. David Rodrigues. Tem a palavra o Sr. Cortês dos Santos.

O Sr. Cortês dos Santos: - Sr. Presidente: sôbre um incidente de rua tem se feito nesta Câmara um grande debate.

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Nesta altura da discussão, recordando tudo o que se tem dito nesta Câmara, confirmo mais uma vez que a discussão está muito longe do acontecimento dado e não podemos deixar do reconhecer uma cousa: é que as palavras atribuídas ao Sr. Presidente do Ministério tiveram desde o dia 6 até hoje uma evolução que é justo não deixar do se lembrar. Quando no dia seguinte aos acontecimentos que têm preocupado a Câmara a maior parte das pessoas leu nos jornais o que era atribuído ao Sr. Presidente do Ministério, essas pessoas acharam absolutamente natural a sua frase.

Do facto as palavras insertas nos jornais, que têm sido atribuídas a S. Exa. o que aqui tem sido várias vezes repetidas, cifram-se nesta afirmação: a guarda republicana não foi criada para atirar sôbre o povo.

Esta afirmação é bem clara, e estou convencido de que toda a gente a pode perfilhar, porque ninguém aceita que haja um organismo, qualquer que seja a sua natureza ou missão, que não seja de defesa.

Não pelas palavras em si, mas pelas considerações que em volta dessas palavras se bordaram nesta Câmara, se conseguiu fazer o que se tem chamado um incidente político. E sobretudo com as palavras proferidas n^sta Câmara que se tem pretendido avolumar o acontecimento e tirar dele todo o efeito político.

Apoiados

Mas oêsse efeito político é dos mais infelizes, porquanto se tem pretendido imiscuir nas questões políticas uma parte do organismo militar.

Apoiados.