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Sessão de 10 de Fevereiro de 1925 23

Sr. Presidente: as afirmações que hoje tenho produzido foram exigidas por êste ambiente, que obriga cada um a apresentar aqui provas de que merece o respeito e consideração de todos.

A formação do meu republicanismo não é de geração espontânea, porque entendo que a mentalidade dos homens públicos orienta-se pelo conhecimento das cousas e não resulta de artifícios.

Eu entendo que aos homens que governam, mormente dentro das democracias e mais especialmente ainda dentro da República, cabe a função permanente de esclarecer o povo.

Em Portugal o problema da carestia da vida não se resolve com decretos. Quem diga o contrário, mente ao povo.

Êste problema só poderá resolver-se pelo esfôrço colectivo.

Dizer que a carestia da vida é obra dos argentários e da incompetência dos governos, é um crime nefando.

Mas a situação financeira e económica também é grave.

Exige grandes sacrifícios.

Para que todos os possam fazer, necessário se torna que haja ordem e confiança.

Apoiados.

E eu aguardo as declarações do Sr. Presidente do Ministério sôbre o caso.

Conheço S. Exa. pelas atitudes que tantas vezes tem tomado na defesa da ordem, e, portanto, estou na convicção de que S. Exa. de maneira nenhuma poderá cometer qualquer atentado contra a ordem.

Espero que S. Exa. dê terminantes explicações a tal respeito.

Em face delas pautarei a minha atitude.

Se a conduta do Govêrno não fôr aquela que se coaduna com os princípios republicanos, S. Exa. terá de contar-me no número dos seus adversários.

Haja no Govêrno aquela função necessária à salvação do País, que é a de equilíbrio constante entre todas as correntes.

Então nós não somos todos o povo?

Só queremos classificar de povo só determinada classe, é o mesmo que apontarmos um punhal, em linha recta, ao coração da República. E antes que a República chegue ao seu transe mortal, teremos mais uma vez o doloroso sacrifício e estúpido sacrifício de valores da raça.

Apoiados.

O Sr. Presidente: - V. Exa. deseja terminar ou quere ficar com a palavra reservada para depois da interrupção da sessão, que vou fazer?

O Orador: - Eu termino já. A democracia da eternidade de que falou o Sr. Pina de Morais é uma cousa muito bonita em filosofia, mas na vida prática da política não vale nada. A palavra "eternidade" é uma cousa muito complexa para a política.

A V. Exas. não lhes repugna a sujeição a um regime onde não pode haver melhoria económica, porque esta depende da função de equilíbrio das diferentes correntes de opinião pública e do potencial de energia que temos todos dentro de nós, essa função não existe, nem pode existir, com certos governos e certas ideas?

Para que vamos, portanto, para dentro do campo da filosofia, sem querermos resolver as questões pràticamente?

Não me refiro neste momento ao Govêrno, porque não tenho que me referir a êle, mas aos amigos do Govêrno que, sofrendo duma indigestão de leituras feitas à pressa, agitam questões que não conhecem nos seus fundamentos.

Apoiados.

De maneira que entendo que não devemos caminhar assim, porque irmos para êsse campo será cavar a ruína e a destruição da República.

Mas tenho absoluta confiança em que o Sr. Presidente do Ministério há-de esclarecer a Câmara, sossegando os nossos espíritos duma forma que não deixe dúvidas a ninguém.

O Govêrno da República vai seguramente fazer justiça e dessa forma ter-me há a seu lado. Se, porém, quere provocar a luta social, então ter-me há contra si.

O Govêrno da República, por sua mão, vai fazer aquilo que as condições do meio e da raça portuguesa permitirem. Ir mais longe é trair a função governativa, é ofender o prestígio da República que, como disse, tenho servido com o maior desinterêsse, pois não estou abancado à mesa do Orçamento.