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Sessão de 10 de Fevereiro de 1925 9

ORDEM DO DIA

O Sr. Presidente: - Continua em discussão o negécio urgente do Sr. David Rodrigues.

Ficou com a palavra reservada o Sr. Sá Pereira.

Tem S. Exa. a palavra.

O Sr. Sá Pereira: - Sr. Presidente: quando se constituíu êste Govêrno, amigos meus de todos os lados da Câmara disseram que eu mais uma vez era iludido na minha expectativa e que tudo quanto eu pudesse esperar das promessas do Govêrno resultaria inútil.

Felizmente que, decorridos dois meses, eu tenho de verificar que até hoje não sé não fui enganado, mas até, pelo contrário, todas as minhas aspirações e anseios da libertação dum povo se encontram, como prometeu o Govêrno, integralmente cumpridas.

Na verdade já não é sem tempo que aparece um Govêrno que haja respeitado o seu programa como êste.

As largas considerações que fiz ontem no decorrer dêste incidente, que sou o primeiro a lamentar, encontram-se plenamente justificadas pela grande ânsia do País inteiro, e muito especialmente pelo povo trabalhador, que dia e noite se mata para angariar os seus salários, que não correspondem às suas mais indispensáveis necessidades.

É necessário que o Govêrno se mantenha nas cadeiras do Poder para poder cumprir todas as suas promessas, o que constitui a sua maior glória.

Ainda mal êste Govêrno havia tomado posse e se havia apresentado a esta casa do Parlamento, logo um dos meus amigos pessoais mais queridos, mais dedicados, embora meu adversário político no campo republicano e que milita na minoria da Câmara, o Sr. Jorge Nunes, agitava, como bandeira, um jornal, A Batalha, para apontar como sendo a primeira vez na sua vida que aparecia um Ministério tendo a defesa do órgão da Confederação Geral do Trabalho.

Se isto constitui um motivo de alarme para S. Exa., para mim constitui a maior de todas as satisfações, porque, na verdade, desde que se proclamou a República em 5 de Outubro, um Gabinete era finalmente acolhido com simpatia pela Confederação Geral do Trabalho, pelas classes trabalhadoras do País.

Um regime democrático deve ter como base do seu programa o auxílio às classes trabalhadoras.

Os regimes democráticos não vivem em parte alguma do mundo do apoio das fôrças detentoras da riqueza bruta do País.

V. Exas. sabem que a nossa República não foi feita, como aliás outras. Repú-blicas, pelas pessoas que possuem fabu-losas fortunas.

Republicanos ricos, do tempo da propaganda, como Bernardino Machado, Braamcamp Freire, já falecido, e outros constituem um número tam reduzido que posso citá-los a todos neste momento.

A República foi proclamada pelo povo.

Como podemos estranhar, portanto, que as classes trabalhadoras demonstrem ter confiança no Govêrno da República, Govêrno que se constituiu para dar cumprimento ao programa apresentado em 5 de Outubro de 1910?

As palavras que proferiu neste caso o Sr. Jorge Nunes foram as palavras de um conservador, mas que não deixa do ser respeitado como um homem que, embora conservador, é profundamente republicano, uma pessoa absolutamente íntegra, porque a sua vida é um espelho de virtudes.

Por que é que o apoio dêsse jornal podia causar espanto, se a República, que todos nós amamos como republicanos, é defendida pelo povo, pelo órgão das reivindicações operárias?

Não faria referência a este facto se êle não tivesse sido ventilado nesta casa do Parlamento.

A Batalha e o Mundo, diziam, são os dois jornais defensores do Govêrno que se encontra à testa, dos negócios da Nação neste momento.

Tenho a satisfação também de ver que êste Govêrno é defendido pelo Mundo, o jornal que mais combateu pela República e que teve à sua frente França Borges. E ninguém ignora qual foi a sua vida inteira de sacrifícios em defesa da República e dos interêsses do País.

Apoiados.

Vozes: - Muito bem.