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8 Diário da Câmara dos Deputados

classes proletárias e do jornal A Batalha.

Está muito bem! De facto o organismo da Confederação Geral do Trabalho deu ao Govêrno de S. Exa. um apoio e prestou lhe uma solidariedade que até hoje, após 15 anos de República, não tinha dado a nenhum Govêrno republicano.

Mas é preciso acentuar, Sr. Presidente, que o jornal A Batalha e a Confederação Geral do Trabalho não são republicanos. São até elementos que trabalham contra a República (Muitos apoiados), porque a realização das suas ideas implica fatalmente a destruïção da República!

Proclamam-no todos os dias por escrito nos seus jornais e pela palavra nas suas reuniões e nos seus comícios.

O Govêrno do Sr. José Domingues dos Santos deu-lhes mesmo o direito de soltar nas ruas os gritos subversivos de "viva a revolução social" e "vivam os soviets".

Talvez fôsse por isso que a Confederação Geral do Trabalho lhe deu o seu apoio por ver que o Govêrno de S. Exa. se inspirava mais nos seus princípios do que nos princípios republicanos.

Sr. Presidente: é indispensável dizer toda a verdade ao País.

Apoiados.

O povo republicano não é aquele que vem para a rua aos gritos subversivos de vivas à revolução social e abaixo a burguesia; o povo republicano não é o que protesta contra a propriedade individual; o povo republicano não é aquele que conspira contra a existência do Estado republicano e pretende perturbar a sua ordem pelo terror e pelo atentado.

Muitos apoiados.

O povo republicano, Sr. Presidente, foi o que fundou a República e que está disposto, em todas as horas graves, a sacrificar-se ao nosso lado para defender as instituições republicanas.

O Sr. José Domingues dos Santos está no seu direito de professar as ideas que entender; mas se essas ideas são as da Batalha então não tem o direito de invocar a República, não tem o direito de falar no povo republicano, não tem o direito de estar dentro do partido que fundou a República e que a quere conservar na integridade e na pureza dos seus princípios constitucionais.

Apoiados.

O Sr. Alberto Cruz (em àparte): - V. Exa. não pertence ao partido. O partido resolverá, pois, sem precisar de V. Exa.

O Orador: - Já pertenci, porém, antes de V. Exa.

O Sr. José Domingues dos Santos quis imprimir ao seu Govêrno uma feição esquerdista, mas não teve talvez a noção das esquerdas que tem o Sr. Herriot, actual chefe do Govêrno francês, e que, no emtanto, está em guerra aberta contra todos os inimigos da República, quer sejam da extrema direita ou da extrema esquerda.

Uns e outros são adversários e como tais têm de ser tratados.

Sr. Presidente: o Sr. José Domingues dos Santos disse ontem, com uma franqueza que chegou a ser simpática, que queria ser Govêrno e que havia de voltar a ser Govêrno.

Não tenha dúvidas!

Eu sou daqueles que não hesitam em prestar a homenagem que é devida à sua vontade tenaz.

S. Exa., Sr. Presidente, tem sido de facto tudo o que tem querido dentro da República!

A sua figura, satisfeita de si própria, traz-me à lembrança a figura daquele bispo, que foi uma grande figura do Constitucionalismo e que dizia constantemente que em todos os ramos em que tinha exercido a sua actividade tinha atingido sempre os mais altos lugares.

E dizia o prelado político: fui estudante e cheguei a lente; fui padre e cheguei a bispo; fui político e cheguei a Ministro e se nunca cheguei a general foi porque nunca fui soldado!

Risos.

Também o Sr. José Domingues dos Santos tem sido tudo quanto tem querido. Quis ser Ministro e foi Ministro, quis ser Presidente do Ministério e foi Presidente do Ministério, e, se não chegou a bispo, foi porque saíu do seminário.

Risos.

O Sr. José Domingues dos Santos, para se defender daqueles que lhe lembram que êle nunca foi republicano, costuma contar, e fê-lo ontem especialmente em resposta à minha interrupção, a história daquele homem cheio de mêdo que atravessa a floresta gritando:

Eu não tenho mêdo! Eu não tenho mêdo!