O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

10 Diário da Câmara dos Deputados

Feitas, Sr. Presidente, estas ligeiras considerações, façamos agora aquela série de afirmações que eu julgo necessário fazer, depois das palavras ontem aqui proferidas pelo Sr. José Domingues dos Santos.

Não é propósito meu reacender o fôgo duma discussão já passada, nem tam pouco bater no cadáver de um Govêrno que apenas deixou de si uma detestável recordação.

O que eu quero é simplesmente aclarar o que, porventura, não tenha sido ainda aclarado e repor as cousas no seu devido lugar, uma vez que me parece não terem sido inteiramente esclarecidas as razões que motivaram a queda dêsse Govêrno, dada a especulação que se fez para o impedir.

Porque caíu o Govêrno do Sr. José Domingues dos Santos?

Quem ouvisse as afirmações de S. Exa. poderia supor que o seu Govêrno caíu tam simplesmente por a Câmara dos Deputados se ter servido do pretexto da sua frase lançada do Ministério do Interior, para o derrubar.

Não foi assim.

O Govêrno de S. Exa. caiu, entre outras razões, porque S. Exa. foi infeliz inoportuno e inconveniente. Sem ter conhecimento detalhado dos acontecimentos anteriores, as suas palavras foram uma censura à fôrça pública que se manteve com absoluta correcção e prudência.

Mas foi só por esta razão que o Govêrno caíu?

Não como já disse.

O Govêrno caíu, também, porque a sua orientação política prometia conduzir-nos para uma série de conflitos na rua, conflitos de que sai sempre mal ferido o princípio da autoridade.

O Govêrno caíu, ainda, porque pretendeu coagir o Parlamento a votar conforme os seus desejos; porque permitiu que dias depois dos acontecimentos do Terreiro do Paço, se efectuasse um comício em que foi apregoada a rebelião e a desordem e em que se preconizou um novo 19 de Outubro; porque permitiu que a multidão percorresse as principais ruas da cidade dando vivas à revolução social; porque desencadeou a luta entre duas classes que não são republicanas; porque, emfim, nos arrastava para tremendos conflitos sangrentos, a cujas conseqüências eu não sei se a República poderia resistir.

Apoiados.

Foram estas as razões que me levaram a votar contra o Govêrno do Sr. José Domingues dos Santos. Foram estas as razões que levaram os meus colegas nesta Câmara a adoptar idêntica atitude.

Apoiados.

Mas continuemos a fazer história. Votada nominalmente a moção que derrubou o Govêrno do Sr. José Domingues dos Santos, por uma maioria de 20 votos - considerável nesta assemblea que derrubou os Ministérios Álvaro de Castro e Rodrigues Gaspar apenas por 3 ou 4 votos de maioria - o Govêrno voltou à Câmara e foi então que o Sr. José Domingues dos Santos proferiu a seguinte frase:

"Estamos entendidos: o Parlamento quere antes um Govêrno de exploradores contra explorados e uma fôrça pública que espingardeie o povo".

Choveram os "não apoiados" sôbre a frase infeliz de S. Exa., e só porque a sessão se encerrou em seguida ela se não levantou imediatamente.

Venho pôr as cousas nos seus devidos lugares, porque a afirmação feita ficou de pé e se prestava a uma baixa e vergonhosa especulação nas colunas dos jornais que lhe eram afectos, e aparecendo até numa mensagem, por ocasião de certa manifestação tam pouco republicana que o Sr. Presidente da República exigiu, em troca da sua apresentação aos manifestantes, a promessa segura de que um viva ao regime, que ia soltar, havia de ser secundado por todos os presentes.

Sr. Presidente: julgavam, porventura, que ficássemos calados, que poderíamos consentir que alguém tivesse o direito de traduzir falsamente o significado político da nossa atitude, que foi tam patriótica e tam republicana?

Apoiados.

Não. Mas aqui foi possível dizer-se que nós não éramos nem patriotas nem republicanos!

Apoiados.

Ah! Sr. Presidente, não falo de mim, mas quero citar os nomes de Carlos Olavo, Américo Olavo, Jaime Cansado e tan-