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Sessão de 12 de Março de 1925 11

os bens que lhe eram entregues. É baseado neste passado do Sr. Portugal Durão que estimo, como português, ver S. Exa. com a coragem suficiente para arcar com as responsabilidades que pesam sobro a nossa província neste momento, e que não são só as da parte financeira e económica. A êste respeito, como não gosto de ocupar muitas vezos o tempo à Câmara, permitam-me V. Exas. que laça umas ligeiras considerações.

É sabido que depois da Grande Guerra o sudoeste alemão foi encorporado na União, mas com unia liberdade de acção muito especial, porque, atinai de contas, pode dizer-se que ainda é hoje uma colónia alemã, ainda que sob a suzerania ingleza.

E com esta acomodação às circunstâncias, em que os nossos velhos aliados são tam hábeis, que a Inglaterra tem conseguido assambarcar o mundo.

Favoreceu êste estado de cousas o facto de o Govêrno da União estar confiado a Hertzog, que, sem se ter afirmado a favor ou contra a guerra, era inegàvelmente pela sua tradição, bóer mais inclinado à Alemanha do que ao Govêrno Britânico; e tanto que. quando êle assumiu o poder, houve muito quem duvidasse da visita do príncipe de Galles a África, mas isso tudo foi sanado, porque os boers sentem-se hoje mais fortes do que se estivessem em repúblicas independentes.

Êste é o sentimento que domina neles, e foi o que dominou na crise da guerra.

Ora há no sul de Angola uma questão por terminar, que se refere à fronteira da nossa possessão, e da parte de toda a gente que tem relações com Angola se fala na insistente penetração alemã no sul da província, por meio de viagens de estudo, de ocupação, de pontos e da concentração de colónias todas armadas, concentração que se dá, digamos de passagem, não só no sul de Angola, mas em toda a via de penetração pela qual os alemães na guerra fizeram a sua marcha até à Zambézia.

Todos êles entram com uma arma, pelo menos, e depois conseguem mandar vir mais, não para si, mas talvez para armarem os askaris que tam denodadamente combateram a seu lado durante a Grande Guerra.

Outro risco para a província, que se pode talvez dizer que surgiu em Angola, precisamente durante a administração do Sr. Norton de Matos, é aquele perigoso movimento chamado nativismo, cujas consequências começam a preocupar todos os que têm interêsses na África.

Aqui há trinta anos, quando desembarquei no Cabo pela primeira vez, lembra-me a impressão que me causou, estando a jantar com algumas pessoas, entre elas o nosso cônsul, ouvir fazer a declaração de que a África devia ser para os afrikanders.

Nesse tempo os afrikanders oram os descendentes dos boers, e êsse pensamento deu a guerra do Transvaal e depois a formação da União Sul-Africana.

Mas hoje o movimento vai mais longe; há uma seita exclusivamente recrutada entre os indígenas, e que anda largamente espalhada nas colónias portuguesas, a qual tem por lema a idea de que a África deve ser apenas para os africanos.

E, atendendo à formidável desproporção que existe entre o número deles e o número de brancos que ocupam a região sul-africana, pode fàcilmente vêr-se o perigo desta campanha nativista, que é fomentada ainda pelas missões protestantes que fazem disto um ponto de fé e são um dos maiores elementos de desorganização que existe hoje.

Li ainda há pouco tempo o que é a propaganda dos Estados Unidos, feita na América Central, tendente a desnacionalizar as colónias espanholas, propaganda que é exercida pelas missões protestantes.

Esta campanha do nativismo está-se fazendo mais largamente em África, e é bem lamentável que o Sr. Norton de Matos a tivesse deixado desenvolver-se quando foi Alto Comissário de Angola.

E êste um dos perigos a que o Sr. Ministro das Colónias se referiu e que pode mais duramente ferir a soberania portuguesa.

Sr. Presidente: eu não desejava terminar as minhas curtas considerações, sem dizer a Câmara o que aliás já se deduz de tudo o que tenho afirmado.

Nós somos forçados a votar a generalidade desta proposta de lei, para manter a soberania nacional em Angola.

Quanto à parte financeira, ela está estudada e observada, e mais largamente