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Sessão de 12 de Março de 1925 9

Orientava-a Roger Casement que, no tempo do António Enes, tra beni conhecido por nós e já então mostrara muito pouca simpatia o amor por Portugal. E, Sr. Presidente, só eu posso falar assim sem rebuço dum funcionário britânico é porque, como V. Exa. e a Câmara sabem, êsse funcionário foi agarrado abordo dum submarino alemão, que transportava armamento, pelas autoridades inglesas, e, pelos processos do que elas por lá só sorvem nestas situações, a breve trecho estava enforcado, como traidor ao seu País.

A campanha anti-escravista era, pois, tendente a demonstrar a incapacidade, a manifesta insuficiência do recursos do Portugal que lhe não permitiriam manter o seu domínio colonial, nem lhe dariam por consequência direito aos territórios que um glorioso passado lhe tinha legado.

Não acabaram ainda, Sr. Presidente, êsses perigos que ameaçam Portugal. E, assim, ainda não há muito tempo que na Liga das Nações, o Sr. Freire de Andrade, com a sua grande autoridade do colonial ilustre, tinha do rebater as campanhas anti-escravistas que se faziam contra a administração colonial portuguesa.

Havia muitas dificuldades em contrôler a matória contratual no vastíssimo sertão do Angola. Essas dificuldades, que Mousinho tinha podido resolver em Moçambique, limitando os contratos de trabalhos e subordinando-os a uma fiscalização apertada das autoridades portuguesas, só pôde ser efectivada depois da campanha de Gaza, lacto de que é também testemunha o meu ilustre camarada do então o general Sr. Vieira da Bocha. Sabe S. Exa. perfeitamente as dificuldades que nos foram levantadas pelos engajadores livres o as razões terminantes que levaram Mousinho a regular os contratos de que falei.

Em Angola não se pôde fazer o mesmo, pela vastidão do seu território, Mas, finalmente, a maior parto das acusações começaram a cair e a campanha foi acabando até se demonstrar que a sua efectivação e orientação provinham daqueles inimigos que pretendiam, acima de, tudo, destruir a soberania portuguesa em África.

Eu reputo perigosíssima para a soberania nacional, a afirmação aqui feita pelo Sr. Ministro das Colónias. Não me pareço que prestigio assim o País, antes penso que prejudica gravemente a causa nacional, tanto mais quanto ó certo que S. Exa. fez, a propósito do actual estado de Angola, referência a perigos que em grande parte não são desconhecidos do muitas das pessoas que aqui se encontram.

Ouvi, ontem, a propósito ainda da proposta em discussão, fazer elogiosas referências ao ex-Alto Comissário de Angola, Sr. Norton de Matos.

Não digo que na sua administração não haja pontos que não sejam defensáveis. Lembro-me, a propósito, daquele episódio, que V. Exa. e a Câmara conhecem, do cura e da ama de D. Quixote: estavam-lhe queimando a livraria sob o pretexto do que tam maus livros lhe envenenavam os miolos, quando aparece o bacharel Sansão Carrano, que, lamentando aqueles sucessivos autos de fé, observa: "No hay libro maio que no tienga algo do bueno."

É possível que, esquadrinhando na administração de Angola, alguma cousa de bom se encontre, ainda que a proposta que estamos discutindo pareça demonstrar o contrário e que a comissão de colónias se refira a essa administração em termos que vão por certo muito mais longe do que aquilo que tem sido referido pelos oradores dêste lado da Câmara.

Sr. Presidente: nós vamos satisfazer as dívidas de Angola, e digo - nós vamos- porque, evidentemente, dada a urgência de ocasião que se invoca com o apertado das circunstâncias e consideradas as palavras ditas pelo Sr. Ministro das Colónias, é quási impossível rejeitá-la. Há-de votar-se.

Tal como se nos apresenta a situação, ela tem de se votar por decoro da soberania nacional.

Mas, depois, o que vai ser dessa obra de fomento que nem começada está, se bem que já se houvessem gasto centenas do milhares de contos, com ausência completa do mais rudimentar princípio de previdência?

Em tudo só nota essa falta de previdência.

Foram adquiridas máquinas inglesas das mais aperfeiçoadas, para servirem