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Sessão de 23 de Março de 1925 15

uma moção do ilustre Deputado, Sr. Vicente Ferreira, moção que provocou um dos mais vivos debates políticos a que tenho assistido.

O Ministro das Colónias de então, Sr. Carlos de Vasconcelos, como há dias declarou, disse que só encontrara nesta Câmara a voz de um Deputado a apoiar a orientação que tinha traçado a êste respeito.

Seja-me permitido dizer que S. Exa. é que cedeu às pressões de alguns lados da Câmara, certamente porque êste ainda não se tinha pronunciado e havia preparado uma moção precisamente para acompanhar o Sr. Ministro das Colónias nessa orientação.

E, Sr. Presidente, aproveito o ensejo para prestar a minha homenagem ao Sr. Carlos de Vasconcelos, porque S. Exa. foi um dos Ministros das Colónias que tenho visto desenvolver maior actividade no desempenho da sua missão, tendo procurado reunir, com muito bom senso, o concurso de todos os elementos necessários para a realização do seu plano.

Êste lado da Câmara pensa que não se pode de modo nenhum negar assistência financeira à província de Angola. Somos um país colonial e queremos continuar a sê-lo, não devendo, em nenhuma hipótese, deixar de o ser, sob o ponto de vista internacional, porque nós temos entre todas as nações aptidões especiais para o desenvolvimento da civilização e, sob o ponto de vista dos nossos interêsses nacionais, porque, tendo nós um excesso, ou antes um transbordar constante e elevado de emigração, é justo que procuremos canalizar essas ondas emigratórias portuguesas, procurando utilizá-las o mais possível.

Não quere, portanto, o País desprender-se de nenhuma colónia e é justo que assim suceda porque, se porventura se desprendesse de alguma delas, isso seria o bastante para corrermos o risco de perder a situação internacional que até hoje temos mantido com honra. Mas, Sr. Presidente., se há colónia de que de modo nenhum nos possamos desprender, essa é Angola, onde temos empregado os nossos maiores esfôrços e feito os nossos maiores sacrifícios.

Recordo-me ainda de quando na minha mocidade lia As Novidades, em que o

brilhante e saudoso jornalista Emídio Navarro defendia com calor a necessidade de manter o mais possível a nacionalização das colónias, parecendo-me que é sobretudo à inspiração dêsse político que se deve a lei de 1896 que proíbo operações bancárias a companhias e sociedades estrangeiras. E necessário que continuemos nesta mesma orientação, mas, tratando-se de uma crise como a actual, devemos, também, averiguar da sua natureza.

A alguns Srs. Deputados ouvi dizer que a crise era cambial e bancária; a outros que era económica o a outros ainda que era um reflexo da crise nacional, etc.

Quem tem razão?

Todos a têm porque, na verdade, a crise é um complexo de todos êsses aspectos.

A crise é bancária e é cambial, como o demonstram os factos citados nos pareceres das respectivas comissões, porque as dificuldades, primeiro, e, depois, a impossibilidade de transferências de moeda não são mais do que a manifestação dês-se aspecto do problema.

O não pôr a província de Angola à disposição da metrópole as quantias necessárias para pagar aos seus funcionários e aposentados aqui residentes é uma demonstração de que, na verdade, a crise é bancária e cambial. Mas, Sr. Presidente, a crise é, também, moral. E o que se conclui de nada se dizer por parte de Angola sôbre o protesto das letras que foram sacadas ao abrigo do crédito dos 3 milhões de libras.

A crise é ainda de carácter económico, porque os caminhos de ferro de Angola, não sendo convenientemente cuidada a sua conservação e reparação, estão, por assim dizer, inutilizados, demonstrando, igualmente, a competência técnica de muitos dos que trabalham nas nossas colónias.

A crise tem, também, um aspecto Social de ordem pública.

Um ilustre colonial, Dr. Francisco Veloso, num artigo que publicou ontem no jornal As Novidades, o notava.

A crise é pois muito complexa e é necessário atender aos vários aspectos que ela apresenta, para resolvê-la. Não basta, portanto, a proposta que o Sr. Ministro das Colónias aqui nos trouxe.

Essa deixa-nos apenas uma aberta para