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18 Diário da Câmara dos Deputados

O Orador: - O concessionário constituíu depois uma companhia para receber o ópio cru.

Compreendo que para o espírito da Câmara seja estranho o estar a falar lhe em ópio cru.

Eu direi, porém, à Câmara a fim de que lhe seja fácil atingir a importância dêstes assuntos relativos ao ópio, que essa questão do ópio é no Oriente como é aqui em Portugal a questão dos tabacos, que tanto interesso desenvolve em sua volta.

Feita a redução, a companhia que se havia formado obteve a concessão para importar certo número de caixas de ópio cru, som que pagasse qualquer cousa por essa importação.

Ao anunciar-se a ida do novo governador, foi sustada a autorização já concedida.

Devo declarar, por lealdade, que êste caso em nada respeita ao antigo governador Correia da Silva, Apenas lhe respeita a redução da renda do ópio.

Quando cheguei a Macau o concessionário reclamou perante mim contra o facto de lhe ter sido retirado um direito que já lhe havia sido concedido.

Eu, então, levei o caso à apreciação do Conselho Executivo da colónia.

Ali foi reconhecida toda a razão ao reclamante e foi-lhe deferido o pedido.

Eu, porém, fiz sentir ao concessionário que o Govêrno havia sido muito prejudicado na redução da ronda o que, portanto, as caixas importadas não poderiam deixar do pagar alguma cousa.

Êste assunto teve várias alternativas e por fim o concessionário passou-me um cheque de 100.000 dolares cheque passado em meu nome - que eu inutilizei o guardei para ser substituído por outro, passado em nome da Misericórdia.

Eram 100:000 dólares. Qualquer cousa como 1:500 contos, ao tempo.

Julga o Sr. Ministro que está num país onde não há o sentimento da dignidade dos lugares e das situações?

Deseja S. Exa. pôr se detrás da solidariedade ministerial para vir a Câmara ler dramaticamente, teatralmente, um documento desta natureza, como se fôsse uma formidável acusação?

Não receio nada. E digo-o a S. Exa. agora como lho disse quando me chamou, ao seu Gabinete.

S. Exa. nossa ocasião declarou-me:

"Você não merece a minha confiança; há divergência de opiniões e eu fui já obrigado até a fazer uma exposição à Legação de Londres. Portanto tem dois caminhos a seguir: ou demitir-se a seu pedido ou ser demitido."

Eu respondi-lhe:

"Sr. Ministro: tomo a sério as palavras de V. Exa., que são ditas em tem. de seriedade; mas que eu venha sancionar com a minha inconsciência um acto desta natureza, que é urna comédia, não!"

Replicou S. Exa.:

"Mas não e isso que eu desejo; o que eu quero é evitar consequências graves".

Eu pregunto: porque é que o Sr. Ministro não me chamou ao directório do nosso Partido para a me mostrar a necessidade que S. Exa. entendia existir em que eu pedisse a minha demissão?

Porque não me chamou ao menos ao Grupo Parlamentar Democrático, acusando mo, mas dando-me o recluso do eu poder defender-me?

Mas não. Era nos esconsos do seu Gabinete que eu devia suicidar-me infãmemente, sem poder apresentar todos os documentos perante os que teriam de me julgar.

Eu objectei a S. Exa.:

"Honro-me com a demissão que V. Exa. me queira dar. Justifique a com a minha falta de competência, com a sua falta de confiança ou, se quiser, até atribua-a traição à Pátria. Digne-se V. Exa., como Ministro da República, dar me essa honra, porque eu, que tenho ocupado vários lugares neste regime mereci a confiança do Govêrno Provisório e tendo servido com João Chagas, sucedeu que êste grande caudilho republicano se demitisse por ser solidário comigo na defesa das boas normas republicanas. Eu que já ocupei num Govêrno uma cadeira, durante um ano ao lado de alguém que alguém é na República, sinto me honrado em que V. Exa., Sr. Ministro da República, me demita".