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Sessão de 4 de Junho de 1925 17

opressão por parte da China, e de que, se fôsse necessário, recorresse até ao Govêrno de Hong-Kong que sôbre o assunto tinha instruções.

Em contacto com o Govêrno de Hong-Kong, procurei saber o que eram essas instruções.

Não tinha nenhumas. Disse-me o governador de Hong-Kong que as pediria para Londres, mas nunca chegaram. Tratava-se, evidentemente, de um equívoco qualquer, mas as ordens mantinham-se e a situação foi-se agravando.

Começaram a aparecer tropas chinesas perto de Macau; começaram as indicações de que, de facto, Macau ia ser atacado.

Em meados de Janeiro de 1920, Macau estava cercada por 12:000 homens de tropas chinesas. Em frente de Macau cruzavam navios de guerra chineses e nas ilhas ao redor estacionavam bandos numerosos de piratas, prontos a associar-se ao ataque que a Macau ia ser feito, e eu tinha informações do que pela população chinesa estava preparado um levantamento contra a autoridade portuguesa.

Foi nessas condições que eu recebi no palácio do Govêrno de Macau a visita de um general chinos, comandante das fôrças que cercavam Macau, que foi apresentar um ultimatum para suspender determinadas obras de aterro e dragagem ao norte da Ilha Verde.

Eu tinha o meu dever de português e de militar a cumprir; tinha as instruções do meu Govêrno - e o general chinos saiu do palácio com a informação de que as obras cuja execução pretendia embargar não se suspenderiam, a não ser que eu recebesse a comunicação de que o Govêrno chinês tinha nomeado e mandara apresentar uma comissão para tratar da delimitação de acordo com o Govêrno de Lisboa, ao qual eu comunicaria.

Nesse momento, dava-se uma prolongada crise ministerial em Lisboa e o governador de Macau nem sabia a que Ministro se dirigir.

Num dia seguinte ao da entrevista com o general chinês, recebi um telegrama do cônsul geral de Portugal em Cantão, transmitindo-me, em nome do cônsul geral inglês, uma comunicação do Ministro de Inglaterra em Pequim.

Era o terceiro aviso que o Ministro de Inglaterra em Pequim me mandava e dizia que, se o governador de Macau não suspendesse imediatamente os trabalhos que eu já referi ao norte da Ilha Verde, era inevitável o ataque da China a Macau.

Dar-se-ia, portanto, o conflito armado, e das suas consequências, cujos limites ninguém podia prever, como ninguém pôde prever a extensão que havia de tornar o conflito surgido com a Sérvia, cabia a responsabilidade ao Govêrno Português e a mim que ali estava agindo em seu nome.

Era o dia seguinte o marcado para êsse ataque. Cometi então um abuso de autoridade e venho confessá-lo ao Parlamento do meu País.

Tendo 300 soldados em Macau, tendo munições apenas para meia hora de fogo, sabendo a pavorosa calamidade que ia cair sôbre a colónia, tomei a responsabilidade de mandar suspender aqueles trabalhos, sendo autorizado, pelo telégrafo, a tornar público que o fazia por pedido do Govêrno britânico. Suponho que è esta uma das humilhações feitas a Portugal que o ex-governador de Macau ontem atribuiu â minha responsabilidade.

Eu posso com ela, posso com a responsabilidade dessa humilhação ao meu País.

A Câmara está ainda a tempo de me condenar, visto que o Govêrno de então, a quem eu telegrafei dizendo que submetia o meu acto ao julgamento que entendesse, o aplaudiu e me manteve no meu pôsto com toda a sua confiança.

Mais tarde, em 1921, estava convocada para se reunir em Washington uma conferência das potências, à qual Portugal também foi admitido como interessado nas questões do Oriente, para se resolver sôbre a situação da China. A China tinha, como V. Exas. sabem, vários governos, mas dois principais: um em Pequim, reconhecido pelas nações, outro em Cantão, funcionando com o seu Parlamento, funcionando com uma constituição, funcionando com relações de facto com as potências, mas não reconhecido oficialmente por elas. Êsse governo de Cantão é aquele com que a nossa colónia de Macau está em contacto permanente.

O governo de Cantão desejou, dêsse