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20 Diário da Câmara dos Deputados

uma fôrça do infantaria europeia e meia dúzia de soldados pretos, estava positivamente bloqueada. Em frente uma multidão dalguns milhares de homens desvairados, com pendões içados, que eram os distintivos das associações secretas que vinham à luz do dia, serviços da Cruz Vermelha montados, barricadas nas ruas, comunicações cortadas para o porto, etc. A certa altura a multidão avançou, matou um soldado preto e quis assaltar a esquadra.

Era a perfeita subversão da autoridade da colónia, era a anarquia, e a fôrça fez fogo, matando muitos homens, ferindo outros, mas cumpriu o seu dever de fôrça portuguesa.

Apoiados.

Mas, como consequência imediata do acto, dou-se o êxodo de 50:000 ou 60:000 chineses de Macau, deu-se n greve geral- a única do que tenho conhecimento que vingasse -, deu-se a paralização completa da vida da colónia, o quando lá cheguei o aspecto da cidade era tudo quanto havia de mais triste.

Quem conhece a risonha terra de Macau o via as suas ruas desertas, as casas fechadas, emfim, o aspecto fúnebre, não podia deixar de se confranger. Eu talvez tenha responsabilidade no prolongamento dêsse aspecto fúnebre, sobretudo se se comparar o procedimento que então tive com o procedimento que havia sido seguido, semanas antes, numa sublevação em Hong-Kong.

Nossa colónia arrastava-se, havia meses, uma greve de marítimos que prejudicava altamente o comércio da colónia, e degenerando essa greve numa greve geral contra os europeus, o govêrno de Hong-Kong capitulou, submetendo-se às exigências feitas.

Ora ou entendi que a nossa situação ora muito diferente, porque a Inglaterra é poderosíssima, e ainda porque em Hong-Kong está enraizada a vida inglesa. Porém, se nós transigíssemos, se aceitássemos a humilhação, perdia-se por completo o nosso prestígio na colónia, e, portanto, tinha-se de resistir.

Assim, a população portuguesa de Macau sujeitou-se, desde o mais alto até ao último, a todas as privações. Foram as donas das casas que fizeram os serviços dos criados, os soldados que se fizeram padeiros, mas não se capitulou, tendo-se os chineses convencido de que os portugueses, para serem donos de Macau, não precisavam dos seus trabalhos.

Foi o resto desta situação que o Sr. Rodrigo Rodrigues encontrou, e encontrou também de pé algumas das medidas que eu me vi forçado a tomar, entre outras a da dissolução de todas as associações que se tinham sublevado contra a autoridade portuguesa.

Eu não levo a mal que o ex-governador de Macau, Sr. Rodrigo Rodrigues, se tivesse permitido a reabertura dessas associações. Eu, que as havia mandado encerrar é que o não podia fazer. Isto consta duma carta minha que dirigi a S. Exa.

Eu não tenho dúvida, meus senhores, eu não tenho dúvida de que o espírito pacifista do Sr. Rodrigo Rodrigues muito contribuíu para que durante vinte meses vivesse em paz como governador de Macau. Mas também do que eu não tenho dúvida é do que o que mais contribuiu para essa paz foi a atitude da China, Eu não quero com esta afirmação negar reconhecimento à acção do Sr. Rodrigo Rodrigues no que ela teve de esfôrço no sentido de viver pacificamente em Macau, Simplesmente o que eu não posso aceitar é que S. Exa. procure enaltecer êsse esfôrço até o ponto de nos querer lazer acreditar - fazendo assim uma flagrante injustiça a muitos governadores que lá estiveram antes de S. Exa. a - que só um homem conseguiu viver em paz em Macau: o Sr. Rodrigo Rodrigues,

Procurou-o, as circunstâncias permitiram-o; felicito-o, mas não acuse os outros.

Sr. Presidente: quando o Sr. Rodrigo Rodrigues partiu para Macau, no final da nossa última entrevista no Gabinete do Ministério das Colónias, onde nos reuníamos, eu disse a S. Exa.: "V. Exa. vai ter um problema muito interessante para resolver, e êsse problema é o da exploração do porto. Eu não tive ensejo de me ocupar dele com largueza, porque não tive tempo para isso. Seria necessário que a minha capacidade de trabalho fôsse incomensurável para eu poder ter trabalhado mais do que trabalhei em Macau".

O Sr. Rodrigo Rodrigues teve a boa fortuna do ver o problema da construção