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Sessão da 19 de Junho de 1925 11

Eu sei, Sr. Presidente, que os homens do Govêrno nem sempre podem fazer tudo o que querem e desejam fazer. Eu ,sei que, se muitas vezes mais não fazem, é porque encontram na sua frente obstáculos tantas vezes levantados por alguns dos próprios amigos.

Em Portugal vive-se há uns poucos de anos uma atmosfera constante de incerteza.

Disse-o algures: o que falta dentro da democracia para a firmar e, dentro dela, ser possível uma obra útil de governo, é uma organização política republicana. E ela não existe. Emquanto estiver sempre suspensa, sôbre os governos, a ameaça do revoluções quási diárias, em quanto se Tiver num regime de intermináveis prevenções, nem êste, nem outro Govêrno pode caminhar.

Apoiados.

Eu sei que as palavras que vou proferir mo vão criar mais antipatias do que as que já tenho. Não procuro ser hábil, mas, sim, desejo ser verdadeiro. Por isso as proferirei.

Compreendo que numa democracia só possa discutir a utilidade ou não utilidade do exército.

Por mim afirmo que a fôrça armada é imprescindível. Têm a todas as democracias. Tem a até a própria democracia dos soviets.

O exército é necessário porque, Sr. Presidente, ainda vem longe o tempo em que sôbre a fôrça o direito só possa erguer alto, em toda a sua beleza de ideal ainda não atingido.

Apesar de todo o sangue derramado, apesar de todo o imenso caudal de lutas e sacrifícios feitos, a Sociedade das Nações, como garantia de paz, continua a ser apenas e tristemente uma esperança.

Apoiados.

Temos, pois, do nos defender. Para nos defender temos de ter um exército. Mas eu não compreendo um exército conservador.

Apoiados.

Queixam-se os militares de que não são justamente pagos. Queixam-se de não estarem devidamente apetrechados e do facto de haver majores do exército que ganham menos do que um porteiro da casa do Congresso. Têm razão nas suas queixas.

Muitos apoiados.

Quem quere ter um exército tem de o apetrechar dignamente e de lhe pagar com justiça e bem.

Apoiados.

Um oficial que tem em sua casa a mulher e filhos com fome não pode - eu sei-o bem - conservar a serenidade suficiente para se manter dentro da disciplina, integrando-se só na sua missão. Temos obrigação de pagar devidamente aos nossos oficiais. Mas ninguém dá o que não tem. E o Estado está nessas circunstâncias.

í Mas quem é que só tem oposto a tal? Porque não está o Estado devidamente habilitado a bem pagar? Todos nós o sabemos, Sr. Presidente. Porque os homens que se constituíram num núcleo a que chamam a União dos Interesses Económicos, porque as chamadas fôrças vivas, emfim, a isso se têm oposto.

Nunca foi aqui apresentada uma proposta para aumentar os impostos que não se levante logo, da parte deles, uma alta grita de protesto clamando já pagarem demais, já terem dado o suficiente. E por vezes êsse clamor tem eco dentro desta casa.

Apoiados da esquerda.

O Estado, pobre hoje, pobre e arruinado continuará. De quem é a culpar, pois? E dos que gritam a necessidade de ir buscar dinheiro a quem o tem, ou daqueles que não querem pagar?

Apoiados calorosos.

O exército defende-nos a todos, eu sei. Mas serve de defesa principalmente àqueles que mais têm que perder. Porque se negam, pois, a pagar os ricos, os grandes argentados? Por tudo isto é que, Sr. Presidente, num Estado assim eu não compreendo um exército conservador. O Estado só poderá caminhar no dia em que a fôrça pública se convencer de que só tem de defender e não de mandar. O Govêrno tem obrigação de ir até o fim, organizando em moldes democráticos o organismo militar.

Apoiados calorosos da esquerda.

O Govêrno soube vencer, mas teve um defeito: não soube aproveitar a vitória.

Apoiados.

E disso que me queixo.

Vou agora referir-me às deportações. Sei que dizem que sou aliado dos homens da Legião Vermelha, e deles me servi