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Sessão de 6 de Julho de 1925 43

qualquer partido êle apresente um programa em harmonia com o programa partidário. Outra cousa não faz sentido.

Sair um Govêrno da maioria democrática e apresentar um programa da minoria nacionalista equivale a inibir os nacionalistas quando forem Govêrno de apresentar um programa, a não ser que queiram apresentar um programa do Partido Democrático.

É desta confusão de programas, de princípios, processos e atitudes que tem derivado toda a embrulhada da nossa política.

E só disso que me queixo. Eu queria que os homens que saem daqui tivessem um programa em harmonia com os princípios que professam, iam para as cadeiras do Poder, governavam sé podiam e não governavam se não podiam.

Da mesma forma quando sair um Govêrno das bancadas nacionalistas eu terei o direito de esperar que apresente um programa em harmonia com os seus princípios, e não venha apresentar um programa contrário.

Para isso nós estamos todos a mentir à Nação.

Eu pregunto a V. Exa. e à Câmara se êste programa aqui apresentado é a sequência natural das resoluções tomadas no nosso congresso partidário?

Incontestavelmente não é, e dair a minha divergência.

Eu sei que é necessário haver disciplina, ter uma disciplina favorável, sempre que serve os nossos intuitos e deixa de a ter quando os não serve.

Para mim entendo que serve sempre; entendo que disciplina partidária significa o acordo de todas as vontades que se encontram no mesmo partido para realizar o mesmo programa.

Não o faço, quem está fora da disciplina são aqueles que saem fora do programa partidário.

Assim é que eu entendo a disciplina. Nos quartéis entendo que o soldado não discute: o chefe manda, o general manda e o soldado obedece. Mas isso é nos quartéis, aqui não.

Os partidos políticos formam-se com homens conscientes, que têm vontade e inteligência, e hoje o servo desapareceu para aparecer em substituição aquele que nós chamamos o cidadão.

Ora o cidadão quere compreender e discutir antes de se submeter, o contrário é uma efensa ia inteligência e todos nós homens de inteligência queremos, antes de nos submeter, discutir, e discutir não é dizer que queremos abdicar da nossa inteligência para nos submeter ao arbítrio, e o arbítrio "ó sempre detestável, é a arma dos ditadores, quer seja um homem ou Govêrno; o arbítrio não o aceitamos, não o aceito eu.

Sr. Presidente: há um mal na nossa sociedade, mal que eu vejo repetido há longos meses e que vejo a tendência em se reproduzir.

Aqui fala-se em autoridades que hão-de punir os criminosos, mas fala-se muito pouco em organizar e educar.

Hoje, na sociedade moderna, punir é uma função secundária; organizar é tudo. Alguém procura organizar em Portugal, procura por acaso o actual Govêrno organizar alguma cousa?

Eu quero por êstes princípios, porventura demasiadamente idealistas para o tempo materialista que passa, porás cousas o seu devido lugar.

É possível que esteja em êrro, mas quero viver assim amarrado à bandeira que me cobre e que cobre todos aqueles que quiseram proclamar a República organizada em moldes democráticos.

Vejo ainda tam longe o tempo em que a sociedade portuguesa poderá ser organizada em moldes democráticos, vejo-o tam longe ainda, e noto que em volta das palavras mais simples se procura fazer a deturpação mais odiosa.

Falei aqui há tempos, disse o que pensava a propósito da organização militar, e logo um jornal desta terra, grande informador, dirigido por um homem que para se fazer valer invoca sempre o nome de seu pai, logo êsse jornal em letras gordas dizia:

"O Sr. José Domingues dos Santos profere um discurso atacando o exército, preconiza a deportação de. todos os militares que estiveram na Rotunda".

Vendo-se afinal os relatos constava-se que eu não ofendi o exército.

Eu sou político, conheço as necessidades políticas dêste momento e sei bem que não é possível prescindir do exército