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42 Diário da Câmara dos Deputados

tenacidade, num grande esfôrço de abnegação, de sacrifício e de isenção, defendendo a pouco e pouco as suas doutrinas, disseminando as suas aspirações.

Desse pequeno grupo de homens, alguns deles representantes directos das camadas populares, lembro-me ao acaso, porque nasceu no distrito que eu tenho a honra do representar nesta casa do Parlamento, do livreiro Carrilho Videira, figura que é bem de recordar neste momento em que, para satisfação do certos rancores e desforra de pretendidos agravos, aparecem certos neos-republicanos, que nós só vimos na actividade depois de nascido o sol das compensações. Neste momento em que êsses assim aparecem e procedem de facto com uma hipocrisia assombrosa, porque as suas palavras não correspondem a uma actividade que possa presumir-se derivada da aspiração republicana, é bom recordar essa ligara humilde do livreiro, que sacrificou toda a sua vida à propaganda do ideal, que fez do balcão da sua loja uma tribuna para expansão da propaganda republicana em Portugal e que morreu quási na miséria.

Esquecem sempre as palmas académicas da imortalidade êsses homens que morrem quási na miséria, mas na pose de uma grandeza moral que é de invocar neste momento em que estamos assistindo nesta, casa ao desencadear das paixões, e numa época em que tudo é de acomodarão ao apetite e desenvolvimento do rancor.

Depois, com o poder de persuasão que têm as ideas que correspondem ao sentido da evolução social, foi crescendo o movimento republicano no País.

Ganhou em primeiro lugar um certo número de rapazes, que então se encontravam ainda nas escolas, entre os quais quero destacar a figura extraordinária de Teófilo Braga, que tam injustamente criticado foi neste País, e contra o qual desferiram as suas pedras os inúteis e os invejosos.

Teófilo Braga foi um homem que a certa altura da sua vida serviu de pretexto para todos os inúteis destacarem um pouco, indo à. lama dos regueiros buscar com que lhe atirar, mas que nos deixou um exemplo notável de amor pelo seu País e do uma grande coerência coro as suas ideas e opiniões.

Sejam quais forem os erros e defeitos que se possam apontar à sua obra, porventura,, de pretender enquadrar todo o desenvolvimento do seu estudo dentro da forma do positivismo clássico, a verdade é que êle foi o primeiro trabalhador intelectual português que se dedicou com um afinco extraordinário à obra da definição da nossa própria nacionalidade, e não houve material que não carreasse, não houve subsídio que não procurasse, nem houve investigação que não fizesse para, nas páginas vastíssimas da sua obra deixar, embora com alguns defeitos, traçada toda a acção, por vezes admirável, dêste povo.

Foi um dêsses homens que morreram dobrados os 80 anos, que sempre manteve a mesma coerência de princípios, num momento em que o mudar é moda, havendo até certas pessoas que mudam por vantagens momentâneas, que mudam pele satisfação dos seus desejos e ambições, e que tentam explicar sentimentalmente a sua mudança enquadrando-a numa aspiração alta e sonante, e dizendo, como o disse já um antropóide qualquer que anda com luvas brancas para mostrar que é gente, e que só os burros é que não mudam porque aos homens é próprio mudar.

Isto como só não conhecêssemos hoje o suficiente de psicologia para vermos que as actividades e aptidões imprimem uma fisionomia intelectual própria ao homem, e é isso que mais os individualiza, porque a fisionomia material, que em certas idades da vida tanto orgulha alguns, é transitória, contingente e passageira segundo essa sentença formidável que veio do pó e ao pó voltará, ao passo que essa fisionomia intelectual que se encarna em voos de pensamento não tem de maneira nenhuma o destino contingente o transitório da carne que reveste o nosso corpo e modela as nossas formas.

Desde que um filho do povo, Guttenberg, inventou a imprensa, dando asas o consolidação ao pensamento, a fisionomia moral e intelectual do homem sobrevive à sua adoração física e prolonga-se até aos confins da existência humana.

É certo que mesmo antes da invenção de Guttenberg o pensamento vivia e se demorava muito mais do que a forma