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Sessão de 5 de Agosto de 1925 13

o programa radical e a coesão do programa do Partido Republicano Português".

Como V. Exa. verifica, Sr. Presidente, o Sr. Tôrres Garcia foi mais além que o Sr. Gaspar de Lemos, porque passou aos "canhotos" um diploma do formal incapacidade.

O Sr. Augusto Monteiro, ilustre Ministro da Justiça, proferiu um discurso que pareço ter feito recordar aos convivas os períodos áureos da eloquência ateniense. Valha-nos isso! Sempre é mais agradável ouvir um orador - mesmo quando êsse orador se encontra fora da razão e da verdade - exprimir-se em bom português do que em qualquer algaraviada de trapos. E o Sr. Ministro da Justiça não esteve com reservas nem pôs reticências nas suas palavras. Disso francamente que o Sr. Domingos Pereira lhe garantira que o novo Govêrno seguiria uma política igual à do anterior.

Assim já temos três fiadores de que o Sr. António Maria da Silva, que muita gente imagina não estar na sala, se encontra aqui a dois passos sob o disfarce do Sr. Domingos Pereira. Não sei como S. Exa. arranjou uma máscara tam diferente. O que é certo é que quem se encontra ali é o Sr. António Maria da Silva.

O Sr. Ministro da Marinha também fez o seu brinde na palreira almoçata. Afastando-se de considerações políticas, S. Exa. não destruiu, todavia, nenhuma das afirmações dos seus colegas.

O novo Govêrno, repito, é uma segunda edição do Govêrno António Maria da Silva, não sei se incorrecta e deminuída, mas, em todo o caso, uma segunda edição. E nem podia deixar de ser assim, dado que dele fazem parte homens como o Sr. Vasco Borges, um dos mais galhardos paladinos da política do Sr. António Maria da Silva, como o Sr. Ministro da Guerra, cuja amizade pelo pontífice máximo dos "bonzos" é sobejamente conhecida, e como o Sr. João Camoesas, que ainda há pouco, num esfôrço hercúleo, sobreúmano, durante 9 horas espraiou a sua imaginação por todas as regiões da terra, à espera que das nuvens caíssem alguns Deputados que pudessem salvar o agonizante Govêrno do Sr. António Maria da Silva.

Já afirmei toda a minha consideração pessoal pelo Sr. Domingos Pereira. Releve-me a Câmara se ainda lhe vou prender a atenção durante alguns minutos com a análise da personalidade política, do Sr. Presidente do Ministério. A S. Exa. devo, entre outras demonstrações de estima, a do, juntamente com o Sr. Vasco Borges, depois do movimento de 19 de Outubro, me convidar a ingressar com êles no Partido Democrático. Não pude aceitar o convite, por motivos de incompatibilidade política que todos conhecem, mas nem por isso foi menor o meu reconhecimento por essa prova de deferência.

A feição saliente do Sr. Domingos Pereira é a sua extrema correcção, que nos leva a considerá-lo um adversário leal. Eleito quási por unanimidade para o alto cargo de Presidente da Câmara, o Partido Nacionalista não se arrependo de ter votado no seu nome, tam certo é que S. Exa. nunca deixou de exercer essa elevada função com a mais requintada imparcialidade. Dentro da lógica das suas afirmações e dos seus actos, o Sr. Domingos Pereira foi perdt-ndo as suas características de partidário para entrar na, categoria dos homens públicos que só a República pertencem. Compreendíamos a posição de S. Exa. presidindo a um Govêrno de concentração republicana, se possível fôsse organizá-lo. Surpreende-nos ver o seu nome à frente dum Govêrno partidário, pois a entrada dalguns independentes não lhe retira de facto essa qualidade, e mais nos surpreende que S. Exa. se disponha a ser intérprete da" ordens do Directório do seu Partido e se resigne a encarnar no poder a pessoa do Sr. António Maria da Silva.

Durante dias consecutivos andou o Sr. Domingos Pereira à procura de Ministros e de apoios, porque uns e outros lhe escasseavam e fugiam a todos os instantes. Como explicar essa triste pertinácia num homem que ninguém acusa de dominado pela ambição do Poder? Porque o Sr. Presidente da República renunciaria se porventura S. Exa. declinasse o encargo do formar Govêrno, e porque algumas pessoas se lembraram do nome de S. Exa. para substituir o Chefe do Estado. São estas as duas razões invocadas em conversas de toda a gente para absol-