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14 Diário da Cornara dos Deputados

ver o Sr. Domingos Pereira do triste espectáculo que durante alguns dias ofereceu ao País.

Mas então o Sr. Presidente da República pode forçar-nos a acoitar um Presidente de Ministério sob a coacção da sua renúncia? E o Sr. Domingos Pereira não se lembrou de mostrar no Sr. Presidente da República a enormidade da sua atitude? Contra esta coacção eu quero lavrar o meu mais indignado protesto. Se o Sr. Presidente da República queria renunciar mais uma vez, que renunciasse, que se fôsse embora para onde menos dano causasse à Nação. Não havia outra resposta a dar-lho.

Mas, Sr. Presidente, também se afirma que o Sr. Domingos Pereira, porque alguém lhe segredou ao ouvido, que S. Exa. seria para muita gente um bom candidato à presidência da .República, e era-o na verdade...

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (Domingos Pereira): - Peço licença para dizer a V. Exa. que nunca mo passou pela cabeça a possibilidade do deixar ir por diante as boas intenções, se as havia, do quem quer que fôsse que pretendesse indicar-me para o cargo de Chefe do Estado.

O Orador: - Não compreendo bom a interrupção do Br. Presidente do Ministério. Eu afirmei que S. Exa. era na verdade para muita gente, o poderia sê-lo até para mim um bom candidato à Presidência da República. Mas o que também afirmo é que não é legítimo nem razoável obrigar a Nação a pagar os escrúpulos do Sr. Domingos Pereira, e é pagar muito caro os escrúpulos do S. Exa. ter de aceitar um Ministério que mais vem enredar a política português,!, o que só do artifício poderá viver.

Através de tudo, contra todas as expectativas hostis, contra todas, as ameaças disfarçadas em bons sorrisos, o Sr. Domingos Pereira conseguiu organizar o seu Govêrno. Perante o resultado das inglórias e teimosas démarches do Sr. Presidente do Ministério só há duas posições lógicas: a dos bonzos e a dos nacionalistas. Os primeiros apoiam - o Govêrno, porque é constituído à sua imagem e semelhança; os segundos manifestam-lhe a sua desconfiança, porque êle tem as mesmas características do Govêrno anterior. E qual será a posição dos outros agrupamentos? Os canhotos vão apoiar um Ministério de bonzos-e do bonzos que aceitaram o mandato imperativo de fazer a política do govêrno anterior? He assim fôr, teremos de concluir que os canhotos só votaram contra o Ministério do Sr. António Maria da Silva por embirração pessoal com S. Exa., o que demonstrará que a política da República está à mercê das embirrações pessoais, de bonzos e canhotos. E os accionistas, que consideraram detestável o Govêrno do Sr. António Maria da Silva, vão julgar agora excelente esta segunda edição do mesmo Govêrno?

Conheço bem o Sr. Domingos Pereira. Sei que S. Exa. é incapaz do ter urdido nos bastidores da política quaisquer compensações a dar àqueles grupo em troca do seu apoio. Mas como explicar então que êles não votem, conforme os jornais anunciaram já, qualquer moção de desconfiança apresentada ao novo Govêrno? Não tem êle o mesmo objectivo político do governo anterior? Não foram bom explícitas e terminantes as declarações da alegre o palreira almoçata do Monto Estoril?

Paira em tudo isto um mistério a decifrar. Não se teria manifestado junto de canhotos e accionistas uma pressão semelhante à que foi exercida junto do Sr. Domingos Pereira? Não teria partido de Belém qualquer sugestão que o convencesse de que a queda do gabinete Domingos Pereira faria com que só retirasse da soma política o principal sustentáculo do canhotos e accionistas? Deixo esta interrogação à consciência da Câmara. Responda cada qual como quiser.

Terminado o confronto entre o Govêrno anterior e o actual, postas em foco as atitudes dos partidos e dos grupos, vamos proceder agora à história da crise, narrando os factos o comentando-os devidamente.

Há uma flagrante coincidência de aspectos entre a situação política determinada pela queda do gabinete" António Maria da Silva o as condições em que só produziu a queda do Govêrno presidido pelo Sr. Ginestal Machado. Em 10 de Dezembro de 1923 veio para a rua