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Sessão de 5 de Agosto de 1925 15

um movimento revolucionário. O Govêrno, depois de o dominar, entendeu que devia pedir ao Sr. Presidente da República a dissolução do Parlamento - e logo direi as razões fundamentais que determinaram êsse pedido. O Sr. Presidente da República não quis conceder a dissolução, e o Govêrno Ginestal Machado, sem meios constitucionais para governar, demitiu-se. O Sr. António Maria da Silva, derrubado pelo Parlamento, sem que de cousa alguma lhe valesse ter arranjado um conflito entre a Câmara e o Senado, teve também de sufocar um acto revolucionário. Pediu a dissolução ao Sr. Presidente da República e, em resposta, S. Exa. mandou um telegrama ao Sr. José Domingues dos Santos, associando se à homenagem que os seus correligionários canhotos lhe prestavam. O Sr. António Maria da Silva demitiu-se.

Para que a Câmara possa compreender nitidamente as atitudes do Sr. Presidente da República em relação ao Partido Nacionalista permita mo V. Exa. Sr. Presidente, que eu recorde o que se passou no dia em que S. Exa. foi eleito, faz hoje precisamente dois anos. O Partido Nacionalista, verificando, depois do segundo escrutínio, que a maioria democrática não desistia do fazer vingar a eleição do seu candidato, resolveu votar com listas brancas no escrutínio final. Fê-lo conscientemente, propositadamente, para afirmar um protesto e vincar uma atitude. Cumpria ao Chefe do Estado, depois de eleito, demonstrar pelos seus actos que as nossas apreensões eram erradas, que êle seria, na verdade, não o representante de uma facção, tudo comprometendo para defender os seus interêsses, mas um Chefe de Estado que sabia impor-se ao respeito e à consideração de todos os portugueses. Não sucedeu assim. Os factos vieram demonstrar que os nossos receios eram cabidos, que o nosso protesto se justificava.

Sabíamos que o candidato da maioria democrática estava completamente alheado dos incidentes da política portuguesa. Não conhecia os seus homens. Vivia na completa ignorância dos seus defeitos e das suas virtudes. Desnacionalizado por longas permanências fora do País, sem nunca ter estabelecido contacto com o povo, incapaz, pelas bizarrias do seu temperamento, de se integrar nas aspirações francas e leais do sentimento português, o candidato democrático outra cousa não poderia ser na Presidência da República senão... um candidato democrático.

Conhecíamos, de resto, alguns trechos dos seus livros, que nos mostravam suficientemente as vertiginosas alturas por onde pairava a sua bizarra compleição artística, à busca de emoções inéditas, de sensações rafinées. Não, Sr. Presidente! Nem nós poderíamos compreender êsse artista, nem êle nos compreenderia a nós. Votámos em listas brancas.

Quere V. Exa. conhecer, Sr. Presidente, um trecho onde transparece, veladamente embora, o estranho temperamento artístico do cidadão que foi eleito há dois anos Presidente da República? Vem no Agosto Azul, a pag. XXV. Vou ler à Câmara:

"Ora a idea manifesta uma forma de sentir, uma percepção do mundo externo que deve ser como êle, omnímoda, e então acode-me que o artista exclusivamente viril ou exclusivamente feminino, a quem falte o hermafroditismo intelectual suficiente para destrinçar as sensações, as sensações e os sentimentos dos dois sexos e ainda idealizar o que seriam os sentimentos no estado andrógino integral, êsse artista afirmar-se há sempre incompleto e quási sempre banal."

Ora nós consideramos o cidadão em causa como um artista completo!

Também sabíamos, quando na urna lançámos as nossas listas brancas, que Fialho de Almeida assim falara na Lisboa Galante, dêsse inquieto viajante, que pelo Universo deambulava, para satisfazer uma curiosidade sempre insatisfeita:

"Quási todos os meus amigos viajam e um deles, Teixeira Gomes, a fantasia mais extravagante que eu ainda pude admirar em português, e que anda flanando actualmente pela Itália..."

Pois de Veneza o Sr. Teixeira Gomes escreveu a Fialho de Almeida as impressões que seguem:

"Encontrei em Veneza um fura-vidas que me dá o tipo de certos espertalhões