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16 Diário da Câmara dos Deputados

que por aí fazem fortuna. O homem vai a Roma pedir aos Ministros uma importante concessão: descobriu a receita de matar piolhos sem estalo. Não podes calcular o barulho que isto está fazendo em Itália."

Ah! Sr. Presidente! Nós receámos que o candidato democrático viesse para Portugal matar êsses insectos com tanto estrondo, que êste se pudesse contundir com tiros de canhão. Votámos em listas brancas.

Mas, dir-se-há: o Partido Nacionalista já foi chamado a constituir Govêrno, e por sinal até que â breve trecho da eleição daquele candidato. É verdade! Fomos chamados ao Poder... para se nos armar uma cilada. Emquanto cumpríamos o nosso dever, adoptando todas as medidas tendentes a dominar o acto revolucionário que veio então para a rua, o Sr. Presidente da República, talvez levado pelo seu temperamento irriquieto e bizarro, percorria, de noite, os quartéis da guarnição, tentando até transportar-se a bordo do navio revoltado. O nosso dever, desde essa hora, era submeter S. Exa. a uma prova de confiança. Foi o que fizemos, pedindo-lhe a dissolução. S. Exa. negou-a e encarregou o Sr. Álvaro de Castro de organizar Govêrno.

A cilada tinha produzido todos os seus efeitos contra o Partido Nacionalista. Desacreditava-se esto partido com uma campanha de calúnias semelhante à que foi dirigida há pouco contra o Govêrno do Sr. António Maria da Silva, e chamava-se ao Poder o homem público que tinha nessa altura abandonado o Partido Nacionalista, dessa forma incitando o protegendo os elementos que o tinham apoiado na sua atitude do rebeldia. O Poder era conferido como um prémio dado á scisão feita no Partido Nacionalista. Êste partido, constituído pelos réprobos das listas brancas, não voltou a ter direitos de cidade.

Para impedir a sua ida ao Poder organizou-se um bloco de pedra solta, na frase verdadeira e pitoresca do Sr. Rodrigues Gaspar. Cimentava-o, todavia, o ódio que sôbre o Partido Nacionalista irradiava das mais altas esferas da República.

Assistimos então a êste espectáculo, com certeza inédito na história de todos os regimes parlamentares: o Partido Democrático, que constituía o elemento preponderante e de influencia decisiva no improvisado bloco de pedra solta, chamado a resolver todas as crises ministeriais, que do próprio exterminava com os seus votos no Parlamento!

Cai o Sr. Álvaro de Castro, é chamado o Sr. Rodrigues Gaspar; cai o Sr. Rodrigues Gaspar, é chamado o Sr. José Dominguos dos Santos; cai o Sr. José Domingues dos Santos, é chamado o Sr. Vitorino Guimarães; cai o Sr. Vitorino Guimarães, é chamado o Sr. António Maria da Silva; cai o Sr. António Maria da Silva, é chamado o Sr. Domingos Pereira. E será sempre assim, emquanto na Presidência da República estiver o bizarro cidadão que o Partido Democrático elegeu.

Só o Partido Democrático pode governar.

Os Srs. António Maria da Silva e José Domingues dos Santos cortam as suas relações pessoais? O Sr. Presidente da República, com a sua renúncia, obriga-os a uma reconciliação. Acima de tudo os interêsses do Partido Democrático. Êste divide-se em dois grupos, perde a sua posição de maioria dentro do Parlamento? Não importa! Chama-se outra vez o Partido Democrático, com maioria ou sem maioria, a ver se um Govêrno de conciliação partidária pode fazer voltar a paz às hostes que elegeram o Sr. Presidente da República.

Só o Partido Democrático, sempre o Partido Democrático! O resto da Nação não conta; é quantidade desprezível para o irrequieto viajante que ao instalou na Presidência da República.

É demais! Sindido o Partido Democrático, derrubados pelo Parlamento cinco Governos que nesse partido se apoiavam, a lógica politica, a moral política mandavam que o Partido Nacionalista fôsse chamado a governar. Êle apresentaria ao Parlamento as suas ideas sôbre administração pública, as soluções que os seus homens preconizam para os vários aspectos da crise nacional. E se não obtivesse apoio para a realização do seu programa, a Nação decidiria em última instância, manifestando nas urnas a sua vontade.

Êste é que era o caminho indicado