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Sessão de 12 de Agosto de 1925 25

tuição, tem o seu Parlamento, tem o seu Poder Executivo.

Então é aceitável que haja benevolências para aqueles que querem estrangular o regime com as próprias espingardas e espadas que o regime deixou em suas mãos, e que pela fôrça pretendem tirar-nos as liberdades que temos conseguido à custa de muitos sacrifícios?

Não!

Não pode ser!

Que pena tenho de que o Sr. Raul Esteves não conheça o sentimento republicano do país inteiro!

É maior do que S. Exa. pode julgar.

Para os revoltosos de 18 de Abril e 19 de Julho só há que pedir justiça.

Mas justiça na verdadeira significação da palavra.

Justiça recta e implacável.

Devemos lembrar-nos de que se os factos que se deram entre nós, houvessem sido praticados em França ou em Espanha, já a estas horas tinham sido fuzilados os responsáveis deles.

Em Portugal é o que se vê.

São presos, e nem sempre o são; quando lhes parece saem da prisão para fazer outra revolução, e depois voltam para a prisão.

Vão para o tribunal. Já tenho assistido, com o mais profundo desgosto, ao triste espectáculo de os ver elogiados no tribunal.

Quando são condenados, vem logo à Câmara um Deputado de alma generosa apresentar qualquer projecto de amnistia.

Foi assim que em 1921 aqui foi discutido um projecto do amnistia para libertar os monárquicos que então estavam presos. Combati Csse projecto, e parece-me que tive o prazer de encontrar a meu lado o Sr. Cunha Leal ...

O Sr. Cunha Leal: - Tenho sido sempre contrário a todas as amnistias, e como sou coerente, nunca voto nenhuma.

O Orador: - Sou profundamente extremista, mas sou sempre o homem que não quere a desordem, porque ela não serve aos meus ideais.

As grandes revoluções, e o Sr. Cunha Leal sabe-o tam bem como eu, fazem-se mais pelo pensamento do que com as armas na mão.

Quando em Outubro de 1910 S. Exa. galhardamente, saía da Escola de Guerra para ir para a Rotunda, tenho a certeza que era o pensamento da vitória dos seus ideais que mais o animava.

Eu, Sr. Presidente, vi esta cousa verdadeiramente estonteante, de que nunca me esquecerei através a minha vida: em 4 de Outubro, eram talvez 2 horas da tarde, estando eu nas ruas da Baixa a ver as etapas por que a revolução ia passando, vi um capitão da guarda municipal à frente de um esquadrio de cavalaria querer acutilar o povo, que por toda a parte gritava: Viva a República! Êsses homens ameaçados de serem acutilados fugiam para as portas das escadas, mas, mal a guarda se afastava, voltavam a gritar: Viva a República! Êsses homens eram mais heróicos que os que estavam na Rotunda, porque os que ali se encontravam tinham com que se defender, vê passo que êles estavam completamente desarmados.

Quando nós vemos cousas grandiosas como essa e vemos misérias como foi a movimento de 18 de Abril, a nossa alma, sempre pronta a lutar, retempera-se cada vez mais para a luta, sente-se cada vez mais forte, mesmo quando a doença nos está a minar o organismo. É porque na nossa própria existência há alguma cousa que nos diz: se não lutas, morres.

E por isso talvez que eu através de tudo, apesar de tudo, apesar de todos os sacrifícios, que não chegam a ser sacrifícios, estou sempre no meu lugar, sempre no meu pôsto, embora isso por vezes me cause as maiores amarguras.

Quantos desgostos tenho eu tido com amigos meus, amigos dedicados, a cuja amizade retribuo com a minha; quantas questões tenho tido através da minha vida, e, todavia, eu continuo a ficar sempre forte para manter os meus princípios e para defender a obra que tenho ajudado a fazer.

É que muitas vezes o que me anima não é a minha fôrça, não é o meu valimento, é a razão que me assiste; é que, Sr. Presidente, quando vejo alguém que quere conspurcar a República, tenho a impressão de que sou um homem diferente.