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Sessão de 12 de Agosto de 1925 21

palavra no propósito não só de emitir a minha opinião mas, mais do que isso, lavrar o meu mais fcfrmal protesto contra aquilo que se pretende fazer e que é ofensivo do espírito republicano do País inteiro.

Sr. Presidente: nesta pobre e desgraçada nacionalidade têm de acabar as revoluções, têm de acabar os movimentos revolucionários, e aqueles que porventura os façam terão de prestar estritas contas à justiça, que tem obrigação moral de os punir inexoravelmente. Sou contra todos os movimentos revolucionários, sejam êles feitos por quem fôr, mas especialmente sou contrário àqueles que são realizados pelas entidades que mais do que ninguém têm â obrigação de garantir a ordem.

Mas o que vejo eu?

Vejo do norte ao sul do País criarem-se conspirações de carácter permanente, e para restabelecer uma cousa que o País baniu e não quere ver reimplantada em Portugal: o regime monárquico.

São os militares, que deviam estar na caserna para defender o Govêrno, a lei e a Constituição, que constantemente se revolucionam para formarem Govêrno!

Estou cansado de ouvir dizer que hoje sai uma revolução de carácter radical; amanhã outra conservadora, e outra militar com o fim de fazer uma ditadura, e ainda outra monárquica, etc.

Sem querer saber da política dos homens que estão no Poder, ainda há pouco tempo eu fui avisar o Govêrno de que se preparava uma revolução de carácter militar, que tinha à sua frente o general Sinel de Cordes e o tenente-coronel Raúl Esteves; e sabem V. Exas. o que me responderam: que o Sr. Raúl Esteves era o homem mais amigo da ordem que podia haver e que tinha dado a sua palavra de que defenderia a Constituição.

V. Exas. bem sabem o que sucedeu: êsse homem que era incapaz de atacar a República, êsse homem que era apenas militar, tentou sair para a rua com as suas tropas, e se não o conseguiu foi porque uns civis, prevenidos, evitaram que elas saíssem dos quartéis.

É o movimento não saiu.

Mas um dia há um pequeno descuido, são desconhecidas as horas e os manejos, e o movimento da madrugada de 18 de Abril surpreende a cidade de Lisboa.

E êsse homem, que dizia que era incapaz de desobedecer, e que tanta vez dera a sua palavra de honra de que era incapaz de se revoltar, apareceu no Parque Eduardo VII, ao lado do Sr. Filomeno da Câmara.

Mas o que é isto? preguntava a cidade alarmada ao soarem os primeiros tiros; e, por mais que se preguntasse, ninguém sabia responder.

Fui então ao Carmo saber o que se passava, inquirir dos perigos que corria a República, que o povo havia fundado com o seu sangue generoso, e disseram- me:

"Está revoltado o Sr. Raúl Esteves e preso o Sr. Sinel de Cordes".

Preguntei: Todos o ignoravam que carácter tem êste movimento?"

As horas iam-se passando e a angústia era cada vez maior.

E às 4 horas da tarde, sem comiseração por uma cidade com 800:000 habitantes, sem respeitar aquilo que nós temos de mais sagrado, que é a honra, êsses homens anunciaram à cidade de Lisboa que estavam em revolta.

Então é próprio de homens que envergam uma farda, e que são portugueses, sujeitar durante 20 horas consecutivas uma cidade a um intenso bombardeamento, como se vivêssemos em plena guerra?

Ao mesmo tempo que se atirava para a cidade, a torto e a direito, enorme soma de granadas, não sabendo a população se em suas próprias casas estaria garantida contra o perigo, o Govêrno, que havia sido surpreendido pelos acontecimentos, não sabia como agir, porque tudo era uma interrogação.

Ignoravam-se as unidades que estavam na disposição de acompanhar os revoltosos e as que estavam fiéis à República.

Aquilo que os revolucionários estavam fazendo era a prática de um crime.

Apoiados.

Pretendia-se implantar uma ditadura militar, e o País não quere ditaduras militares nem civis.

Apoiados.