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22 Diário da Câmara dos Deputados

Foi pena que o Govêrno de então não tivesse fornecido as indispensáveis armas aos civis, para êles poderem dizer ao Sr. Raul Esteves o amor que tem às ditaduras.

Apoiados.

É depois de um ataque contra a República, porque, digam o que disserem, foi contra a República que êle se dirigiu; é depois de um movimento que teve por tini rasgar a Constituição, que se apresenta um projecto desta natureza, como que a dizer que se praticou uma ignomínia ao declarar-se a êsses homens que não mais poderiam usar as suas condecorações, nem vestir a sua farda!

Quem teve a culpa disso?

Foi o Govêrno que promulgou a lei, ou foram os indivíduos que o forçaram à prática dêsse acto?

Mas, Sr. Presidente, isto não vai com a facilidade com que julgam muitos daqueles que tomaram a iniciativa dêste projecto de lei, e pelos quais inútil é dizer-se que tenho a maior consideração pessoal, embora estejam em conflito político comigo neste momento, como sempre.

Como homem que tem opiniões e que, através de tudo, as mantém inalteràvelmente com a mesma coerência, com a mesma firmeza, sempre na disposição de fazer os mesmos sacrifícios pela República, hei-de levar a minha palavra, embora pobre e modesta, aonde seja preciso que ela chegue.

E, porque é rigorosamente assim, aqui estou, no cumprimento do meu dever, para declarar a V. Exa. que não posso dar o meu voto em sentido afirmativo ao projecto de lei que se encontra sôbre a minha bancada, porque, para o fazer, seria preciso que há muito tivesse esquecido aqueles compromissos por mim tomados para com a Nação ao iniciar a minha vida pública; e Sr. Presidente, ou não sou daqueles homens que, tendo tomado algum dia um compromisso, alguma vez a êle venham a faltar.

Não tenho a honra de ser oficial do exército, mas, se uma farda eu envergasse, faria como militar o mesmo que faço como civil.

Nunca fugiria ao cumprimento do meu dever ou daquilo a que me tivesse comprometido.

Bem sei que se costuma argumentar que a palavra de honra no campo político não valo o mesmo que no campo das nossas relações pessoais; todavia, eu não tenho essa opinião.

Entendo que um homem só é honrado quando em todas as condições da sua vida cumpre sempre os seus compromissos.

E, Sr. Presidente, ao contrário do que muitos julgam e afirmam, eu tenho a opinião de que, se há cousa do respeitar, se-há cousa a que nós tenhamos que consagrar todo o nosso amor, toda a nossa dedicação, o desvelo da nossa inteligência e da nossa consciência, ela é a política, que tam mal interpretada está sendo pela maior parte das pessoas.

O País inteiro, o País que pensa, que estuda, que sento, há-de reconhecer que os homens mais dignos do admiração e de respeito são os políticos, quando os políticos são honestos, porque a política exige do nós sacrifícios de que ninguém nos recompensa.

Há homens que passam uma vida inteira consagrando-se completamente à Pátria.

Há homens para quem, ainda nos bancos da escola, toda a sua preocupação é o seu País, é a terra em que nasceram, não procurando medrar à sua sombra, mas sim fazer por ela todos os sacrifícios.

E, Sr. Presidente, aqueles que na madrugada de 18 de Abril empunharam uma espingarda ou desembainharam a sua espada tudo isso esqueceram, apodando os políticos de Portugal, sem excepção, de homens perigosos e de pouco menos que criminosos autênticos.

No emtanto, são os políticos que perdem o seu tempo, a sua saúdo, esgotam a sua vida a cuidar da torra que lhos foi berço.

Porque esta é a expressão rigorosa da verdade: eu estou aqui no cumprimento do meu dever de cidadão para dizer a V. Exa. que não posso concordar com êste projecto.

E que se eu neste momento, com sacrifício da minha saúde abalada, não combatesse êste projecto, não ficaria bem com a minha consciência, quando atravessasse amanhã o meu País, os meus concidadãos poderiam dizer-me: - "ali vai um que não soube cumprir a sua obrigação".