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Sessão de 9 de Dezembro de 1918 7

O Sr. Nogueira de Brito: — Sr. Presidente: tencionava usar da palavra na sessão do dia 3 do corrente, em que se celebrou nesta casa do Parlamento a assinatura do armistício. Não o fiz porque a hora estava adiantada e não quis tomar tempo à Câmara, tanto mais que os oradores que dêsse facto se ocuparam o fizeram com uma elevação e grandeza tais, que tudo quanto eu pudesse acrescentar era relativamente insignificante com respeito ao que já estava dito.

No entanto, houve da parte dalguns dêsses ilustres oradores afirmações, que calaram no meu espírito e que me obrigaram a fazer algumas considerações, porquanto a assinatura do armistício e a consequente vitória dos aliados foram para mim, visto pertencer uma classe que tenho a honra de representar no Senado, e que foi a que mais sofreu com a hecatombe que tanta gente vitimou, um pretexto de desabafo e um grande motivo de alívio.

E, Sr. Presidente, porque receio que apezar da boa vontade dos países que estão empenhados na Sociedade das Nações, que pouco tempo dure o estado de paz: por isso mesmo, sinto-me particularmente satisfeito com a terminação da guerra e ainda por que muitos monumentos notáveis, que são o testemunho de tantos séculos de trabalho e glória puderam escapar ao furor guerreiro dos nossos inimigos.

Eu sinto por momentos, Sr. Presidente, assaltar-me a imaginação toda essa galeria interessantíssima e monumentos que as civilizações deixaram através de toda a Europa com as suas feições especiais, com os seus estilos bem pronunciados e onde se retrata, por assim dizer, toda a civilização nas suas múltiplas aspirações!

Por isso, a cessação da guerra significa, para mim principalmente, um grande acontecimento, «porque evita a continuação da perda de tantas vidas, e põe uma barreira à devastação dos monumentos que ainda restam nas cidades e povoações que foram ocupadas pelo exército alemão.

Mas, Sr. Presidente, um receio me inquieta, aliás receio legitimo, e que aqui foi enunciado já pelos Srs. (Queiroz Velôso e Carneiro de Moura, encarando êste a questão da guerra no seu aspecto social e aquele,sob o ponto de vista político.

O Sr. Queiroz Veloso, com a erudição que o caracteriza, referiu-se ao logro de que Portugal foi já vítima, por ocasião da chamada paz geral, pois que, apesar de nos ter sido restituída Olivença, terra genuinamente portuguesa, mais tarde os diplomatas alteraram a verdadeira significação dos tratados, e Olivença ficou em poder da Espanha, não nos sendo jamais restituída.

Este foi um dos receios que sacudia o meu espírito, não porque creia que tal facto se possa repetir agora, isto é, de que passamos perder alguma parte do nosso domínio; mas porque bem pode suceder que as compensações fiquem muito aquém daquilo a que temos jus.

O Sr. Carneiro de Moura, por seu lado, referiu-se ao facto de acontecer q.ue a representação dos vários países na Conferência da Paz ser mais uma representação -estadual do que uma representação dos povos.

Eu vejo com mágoa, Sr. Presidente, que ao passo que todos os países procuram fazer valer os seus direitos no campo governativo, muito pouco parece interessar-lhes essa representação no que respeita às legítimas reivindicações das classes proletárias, das classes que trabalham e que foram forçadas a dar o seu contingente importantíssimo nessa chacina formidável.

O Sr. Presidente: — Tenho a dizer a S. Exa. que está na hora de se entrar na ordem do dia.

Vozes: - Fale, fale.

O Orador: — Agradeço a deferência que me faz a Câmara, mas como não quero abusar prometo ser o mais breve possível.

As representações dos povos devem fazer-se por uma forma iniludível e não simplesmente com uma cerimoniosa troca de explicações entre os representantes dos Govêrnos; deve antes ser uma demorada troca de impressões entre os representantes das classes que trabalham, que produzem e que mais do que ninguêm tem direito a formular as suas reclamações.