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8 Diário das Sessões do Senado

Mas, porque iria muito longe, se mais longe quisesse ir, permita-me V. Exa. que eu, antes de terminar, me refira ao assunto que mais particularmente me obrigou a pedir a palavra. Sr. Presidente; tive ocasião de observar que toda a Câmara vibrou num unísono entusiasmo de fervoroso sentimento patriótico de que não quero discordar, embora para mim a idea da Pátria, signifique mais alguma cousa do que a Pátria dos grandes leitos guerreiros: a Pátria como sentimento étnico em todas as suas modalidades e aspectos naturais, rindo a propósito fazer descriminações mais amplas, mas o tempo que tenho diante de mim, não mo permite.

O que não compreendo, porêm, é como num momento em que todo o país palpita de entusiasmo num grande estremecimento patriótico que invade todas as nações na mesma solene emoção neste período em que se faz a apoteose dos exércitos e a evocação dos feitos que os grandes monumentos da arquitetura, da escultura e da pintura, nos vem rememorar se vote em Portugal ao abandono um dos seus padrões de maior glória que recorda uma das épocas mais brilhantes da nossa história, não compreendo, repito, que êsse momento continui merecendo o desprezo das gerações civilizadas.

Refiro-me à Torre de Belém, monumento de que todos nós nos orgulhamos; de possuir, porque nele se retrata uma das fases mais altisonantes do nosso passado de aventureiros do mar, em que queríamos, não matar, mas civilizar, e que foi engendrado pelo carinho daqueles anónimos imortais, cujas mãos peregrinas, nó dizer dum grande escritor, tinham o poder de atravessar a pedra.

Porque não se envidam todos os esforços nesta ocasião única para que êsse momento seja colocado ao abrigo das emanações delectérias dos depósitos da Companhia do Gás, que alêm de prostituírem e seu nobre perfil, o vão corroendo pouco a pouco até a sua destruição?

Vejo presentes dois ilustres representantes da Câmara Municipal de Lisboa que me poderão talvez dar qualquer esperança as meu anseio, precisamente agora em que se anuncia que a Câmara municipal se vai apropriar da indústria do gás.

Eis, Sr. Presidente, o que se me oferece dizer Tenho dito.

O Sr. Adães Bermudes: — Peço licença a V. Exa. Sr. Presidente, para dar ao orador as explicações que deseja.

Devo declarar que a Câmara Municipal de Lisboa deliberou, recentemente e do modo mais formal, promover a remoção de todas as obstruções que prejudicam a integridade material ou estética do admirável monumento que é a Torre de Belém e S. Exa. a pode estar seguro, de que assim se fará.

O Orador: — Agradeço a V. Exa. as suas explicações.

Lê-se na Mesa a moção do Sr. Machado Santos.

É a seguinte:

Moção de ordem

O Senado da República Portuguesa envia as suas saudações mais calorosas aos povos dos países aliados, que tam heróica e tenazmente sustentaram e fizeram triunfar os princípios da Liberdade, do Direito e da Justiça e resolve proclamar Beneméritos da Pátria todos aqueles que concorreram em Portugal com o seu sacrifício pessoal ou esforço político para levar a Nação a comparticipar da imorredoura glória daqueles países.

Sala das Sessões do Senado, em 3 de Dezembro de 1918. — Machado Santos.

O Sr. Presidente: — A moção que acaba de ser lida tem duas partes. A segunda devo constituir talvez um projecto de lei. Não pode, portanto, ser votado.

Ponho à votação apenas a primeira parte da moção.

O Sr. Machado Santos: — Que motivo tem V. Exa. para dizer que a segunda parte da moção deve ser objecto dum projecto de lei?

A Câmara pode tomar uma deliberação a êsse respeito porque podem para os Srs. Senadores êsses homens serem considerados Beneméritos da Pátria.

Não compreendo que seja preciso um projecto de lei.

V. Exa. não considera realmente beneméritos essas criaturas que se sacrifi-