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16 Diário das Sessões do Senado

fôsse subjugado. Depois que Sidónio Pais foi bárbaramente assassinado, a situação do demagogismo foi pior ainda, porque eu, que tantas vezes tenho lamentado que o nosso país se mostrasse insersível, quási incapaz de reagir, presenciei, com satisfação, se é possível tê-la neste momento, que o país verberou o atentado até as mais profundas camadas, porque realmente se produziu um movimento nacional, sem par, sem confronto possível, nestes últimos anos para trás.

Foi um movimento de profunda indignação, foi um movimento de tanta exacerbação, que o demagogismo se sentiu realmente escorraçado. Mas, tam depressa estas divergências se produziram, e demagogismo, como dizer, ousou levantar cabeça e aparecer em público, ousando ir até o Paço de Belêm, onde parecia ainda flutuar a sombra do Sidónio Pais.

Eu, não vou preguntar ao Sr. Presidente do Ministério como é que recebeu êsse avanço do demagogismo: não lho vou preguntar, nem quereria fazer uma crítica, mas simplesmente eu quereria aproveitar a ocasião para dizer a S. Exa. que a sua ascensão política tem sido muito rápida, e eu folgo de prestar homenagem ao verdadeiro talento de estadista, a que essa rápida ascensão se deve.

Mas eu creio que a exactidão manda dizer também que há, um outro elemento a que se deve a ascensão de S. Exa.: é que êle tem sido no poder a verificação da defesa dos conservadores contra o demagogismo; e se S. Exa. não prosseguir nessa intransigência, eu creio que o desmoronamento da sua personalidade política poderá ser tam rapido como foi rápida a sua ascensão.

Uma voz: - Apoiado.

O Orador: - Sr. Presidente: tem-se falado muito no perigo monárquico. Eu estou nesta Câmara em condições muito especiais para poder falar com toda a despreocupação nesta questão, porque, como todos sabem, não estou integrado na minoria monárquica.

Tem-se especulado com o espectro monárquico. Diz-se que todos os comandos militares estão entregues a oficiais monárquicos.

Veja-se que situação mais incoerente e mais ilógica: a defesa duma República entregue a um exército, cujos chefes são todos monárquicos.

É o que se tem dito.

Oh! Sr. Presidente, e o que espanta é que um argumento tam contraproducente ouse invocar-se.

Diz-se que o exército está nas mãos de monárquicos. Mas então, se assim é, podia, porventura, sonhar-se ensejo mais propício para o restabelecimento da monarquia? Todavia, meus senhores, creio que ainda estamos em República; creio que êste Senado é, sem dúvida, republicano, e creio também que o Govêrno é bem republicano.

O que é que isto demonstra, Sr. Presidente? Mostra que, se o exército está confiado a monárquicos - e eu não cito isso senão como hipótese - êsses monárquicos acabam de dar a prova mais triunfante da sua absoluta isenção partidária: acabam de se pôr às ordens da Pátria: compreendem perfeitamente que a situação é tal que a ordem na República deve sobrelevar sôbre todas as outras. Portanto, meus senhores, eu digo que não há perigo monárquico, porque são os próprios monárquicos que se unem para a defesa da ordem na República.

Ora, eu pregunto, se não havendo o perigo monárquico, haverá o perigo demagógico; que acho bem mais perigoso.

Sr. Presidente: eu ouvi hoje nesta sala increpar duramente o Govêrno péla sua transigência com as Juntas militares. Creio bem que um dos maiores flagelos sociais é a guerra. Mas outro pior do que êsse é a guerra civil, e outro pior ainda seria a guerra civil em Portugal nesta conjuntura.

Todos sabemos que de ambos os lados havia fôrças importantes; não quero discutir agora de que lado seria maior, basta constatar o seguinte: que havia de um lado o Govêrno e do outro as Juntas militares. Basta constatar isto. Não quero saber quem teria probabilidades de vitória; basta saber que havia fôrças de um e de outro lado importantes e que essas fôrças, uma vez em acção, fariam muito sangue, haveria por consequência a guerra civil nas circunstancias trágicas a que há pouco referi.