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Sessão de 9 de Janeiro de 1919 17

Deu-se há pouco um incidente entre o Sr. Presidente do Ministério e leader da maioria nesta Câmara.

Discutia-se um acto que se passou numa sessão que pode chamar-se histórica, realizada há alguns dias em Belém. Eu estive lá e não tenho dúvida em chamar para mim qualquer responsabilidade que me possa caber por ter sido um daqueles que aconselharam a conciliação; e prezo-me de ter procedido nessa conjuntura como bom português.

Que se queria então?

Se se não faz a conciliação, que se queria que se fizesse?

Eu não digo que na atitude das Juntas militares não houvesse indisciplina; mas eu pregunto se essa indisciplina não era motivada por razões de alto patriotismo.

Pois então, nós assistimos em 1908 ao duplo regicídio e vemos que em lugar do castigo aos regicidas se fez a apoteose dêsse crime, espargindo-se flores sôbre a campa dos assassinos, e não havemos de admitir a possibilidade da repetição, hoje, de tais factos?

Há indisciplinas que salvam.

Eu sou essencialmente um homem de ordem e, portanto, em tese contra todas as indisciplinas. Mas eu compreendo. As Juntas militares eram movidas por um princípio de patriotismo.

O crime do demagogismo segue o seu curso. Embora o incêndio não chegasse a levantar-se, o incêndio lavra.

Eu, falando agora como católico, posso constatar que esta orientação errada provêm de elementos muito complexos que estão produzindo uma péssima atmosfera e, todavia, meus senhores, nós os católicos é que temos sido as grandes vítimas, privadas de todas as liberdades, e continuamos a ser uns párias.

Coutra nós é que se fazem todas as espoliações; vivemos completamente fora da lei comum.

E isto vem de longa data.

Repare-se bem: parece que não há ponto nenhum em que a República Portuguesa tenha tido uma linha de tanta continuidade e sequência. Vem desde o Marquês de Pombal...

O Sr. Machado Santos (interrompendo): — Vem de D. Sancho II, se V. Exa. me dá licença.

O Orador: — Se V. Exa. quiser que venha de mais longe, não tenho dúvida em lho conceder.

Em 1834 fomos as vítimas: os bens dos conventos foram confiscados e os pobres frades, que pensavam que tinham a sua vida assegurada com aquilo que era bem seu, foram dispersos, a ponto de se referir a êsse facto Alexandre Herculano.

Em 1910 quem foram as primeiras vítimas? Nós.

As congregações foram confiscadas e, publicada a lei da separação, a exploração que só tinha feito com os bens das congregações foi feita com os bens das associações locais.

Depois de implantada, o que se chamou a República nova, os católicos respiraram um ar mais desafogado.

Simplesmente as algemas que nos prendiam os pulsos essas continuam a preponderar.

Seja-me lícito recordar aqui um dito de Bernardino Machado ao serem suprimidos os conventos e confiscados.os bens.

Bernardino Machado, com a costumada cordealidade, disse: «Vamos finalmente ter a paz em Portugal».

Era a desordem.

Vejam V. Exas. como a profecia se realizou.

Sr. Presidente do Ministério: é indispensável mudar de orientação.

Para manter a ordem diz-se que a polícia está muito bem organizada e armada, que a guarda republicana tambêm está muito bem organizada.

Estimo isso muitíssimo: sou partidário da boa organização armada; mas não basta isso. E necessária a ordem nos espíritos.

Não conheço outro fundamento de ordem que não seja a Moral e outro fundamento de Moral que não seja o Evangelho de Cristo.

É necessário que se reconheça que o catolicismo é um elemento de ordem, que prega a manutenção de todos os alicerces da sociedade e que sem êsse elemento de ordem moral, não pode haver sossego.

Espero, portanto, Sr. Presidente, que o Govêrno, constituído por individualidades que representam fôrça, se inspirará nesta ordem de ideas e que reconhecerá que esta Pátria querida só pode voltar a ser grande, quando nela tornar a imperar