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24 Diário das Sessões do Senado

de 1912 pôs-se a coberto, porque teve de mudar a sua residência para Lisboa.

No acto da sua iniciação, declarou-se livre pensador e ateu.

Sabendo isto, admiro-me, Sr. Presidente, como se fez funeral religioso ao falecido Chefe do Estado e como se levaram os seus restos mortais para uma basílica católica.

Que estranha forma de honrar a memória de um homem, que foi Chefe dum Estado neutro em matéria religiosa!

Mas a especulação ignóbil ainda não ficou por aqui. O antigo caldo da portaria conventual, que se chama modernamente a Assistência 5 de Dezembro, serviu para fazer desfilar a miséria pelas ruas de Lisboa com coroas e raminhos de custo como se es pobres tivessem previsto a necessidade de irem amealhando as côdeas das broas intragáveis que lhes distribuem para poderem manifestar o seu pesar no epílogo duma tragédia.

Sr. Presidente: o que se está passando neste país é tam grave que eu confesso que não sei o que será o dia de amanha.

Eu não sei o que será o dia de amanhã, quando vier a reacção dêsse movimento monárquico clerical que já estava delineado, mas que só se manifestou quando mataram Sidónio Pais.

O Sr. Tamagnini Barbosa, que foi colaborador de Sidónio Pais deve saber tam bem como eu quais eram as convicções religiosas do defunto Presidente da República. O Sr. Tamagnini Barbosa, consciente ou inconscientemente, está provocando o estalar dessa reação, que e era tremenda.

O nome maçónico de Sidónio Pais era Cariyie, o historiador escoçês que viveu no meado do século passado o que publicou, anotando, as cartas e os discursos de Oliveiro Cromwel, o protector da República inglesa, com o intuito de lhe reabilitar a memória.

Na análise dos norte maçónicos descobre-se muitas vezes qual a trajectória política dos homens que os possuem.

Cromwel foi sepultado em Westminster e Sidónio Pais nos Jerónimos. Ambos tiveram funerais, de rei.

Respeitemos a memória dos mortos, não a insultemos para servir especulações políticas!

Todos dizem: vamos continuar a obra de Sidónio Pais e cada um trata de lançar o país na perturbação de que não sei como há-de sair.

Eu queria que o Sr. Presidente do Ministro declarasse o que era a obra de Sidónio Pais para que o país soubesse o que o seu Govêrno se propunha realizar.

Tive a honra de ser Ministro de Sidónio Pais durante seis meses; e eu, que sempre tive na minha bandeira política a pacificação da família portuguesa, não consegui realizá-la.

Emquanto fui Ministro do Interior, fiz todos os esforços para realizar essa pacificação e só por motivos estranhos à minha vontade ela se não pôde realizar. Mais tarde, como Ministro das Subsistências, dediquei-me à questão económica. O que ficou do meu trabalho nos Ministérios do Interior e das Subsistências viu-se. E o que se lhe seguiu viu-se tambêm: as cadeias a regorgitarem de presos e o custo da vida a, dar um salto tremendo, mercê da entrega do país às mãos dos açambarcadores.

Todas as classes estão hoje sentindo os efeitos da destrambelhada política económica e financeira ultimamente adoptada.

O Sr. Tamagnini Barbosa, que foi mais tempo Ministro do Sidónio Pais do que eu, que teve mais ocasião de sondar o pensamento do defunto Presidente da república, que exponha ao Parlamento a sua obra para se conhecer o seu programa ministerial.

A anarquia que lavra no país é bem maior do que era em 5 de Dezembro.

Podia apresentar à Câmara mais casos documentados para provar a nenhuma confiança que me aspira e ao povo republicano êste Govêrno.

Desisto de o fazer, mas eu não quero deixar de me referir a uma carta que publicamente tem circulado, assinada pelo coronel Sr. João do Almeida, dirigida ao Sr. Presidente do Ministério.

Ouvi S. Exa. dizer na Câmara dos Deputados que não tinha recebido essa carta, mais eu não vi que o Sr. coronel João de Almeida viesse publicamente desmentir que a havia escrito.

Esta carta deixa S. Exa. numa situação péssima, miseranda.

Porque, de duas uma: ou o Sr. Tamagnini, como homem simplesmente, se não