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Sessão de 9 de Janeiro de 1919 27

sindicalista, e só podemos viver das especiarias do Oriente, do ouro do Brasa, e da escravatura.

Veio no século XIX a monarquia constitucional, grosseira imitação inadaptável do regime britânico, com laivos doutrinários, e mais nos desavançamos com tais artifícios.

O Sr. Machado Santos disso, há pouco, que o Sr. Sidónio Pais, sendo maçon, não poderia ser religioso.

Eu suponho que Sidónio Pais teve a visão da necessidade de proteger os trabalhadores e de aproximar todos os portugueses, integrando-os na causa comum da Pátria, a Respública, para agirmos dêste gachis em que temos vivido, em que ninguêm se entende e em que cada um, intransigentemente, quere impor aos outros as suas próprias crenças e planos.

Sidónio Pais, sendo maçon, não desprezou os católicos, e sendo republicano não repeliu os monárquicos.

Um político não é um homem de gabinete, e porque deve ser democrático, tem de respeitar todas as correntes de opinião, pondo-as em equilíbrio estável.

Infelizmente não têm procedido assim os nossos políticos que, dizendo-se democráticos, só tratam de impor os seus interêsses e os das clientelas que os rodeiam. Daí esta feroz luta interminável que ameaça tudo subverter.

Todos temos que transigir. Façamos alguma cousa superior à nossa idiosincrasia.

O Estado moderno não pode ser reduzido à mentalidade facciosa de qualquer política absorvente. Tal política só pode levar a uma catástrofe. Uma nacionalidade governada por facções pode ser um arraial, mas não chega a ser um Estado respeitável.

Hoje não se podem fazer leis e à vontade do freguês» nem administrar a à vontade do freguês».

Têm os Estados modernos que se administrarem em nome da Pátria e da Democracia, que é o povo organizado pela cooperação de todas as classes.

Fazer leis e administrar «à vontade do freguês» é o que entre nós se tem feito para satisfazer clientelas. Há muito que se tem abusado desta fórmula e por isso
assistimos ao actual descalabro.

Vozes: — Muito bem.

O Sr. João José da Costa: — Disse há pouco o Sr. Presidente do Ministério, quando leu o seu programa de Govêrno, que uma das cousas a fazer por êle seria a libertação dos presos políticos que não tenham culpa formada.

Acham-se presos muitos comerciantes nessas condições que, com o seu afastamento dos estabelecimentos, são altamente prejudicados, alêm de trazerem em sobressalto as suas famílias e amigos.

V. Exa. sabe muito bem que o comércio português tem sempre cumprido o seu dever, quere ordem e um Govêrno de ordem, e assim, na manifestação de sentimento pela morte do Sr. Dr. Sidónio Pais, o comércio deu o exemplo, associando-se à manifestação de pezar, encerrando as suas portas no dia do funeral.

O comércio, tendo trabalhado pela República, só por ela quere sacrificar-se como seja preciso.

É necessário que o Govêrno compreenda as necessidades da Pátria e vá ao encontro delas para honra e progresso do país.

O Sr. Adães Bermudes: — Sr. Presidente: como Senador independente, inteiramente alheio a todos os partidos, considero do meu dever dar o meu apoio a todo o Govêrno que se apresente aqui com êste programa simples: «Ordem e Trabalho», que sintetisa as verdadeiras e as mais instantes aspirações do país.

Entendo, pois, que o actual Govêrno pode ser recebido com confiança e sem reserva, porque êle é composto de homens de honra, de talento e de comprovado civismo, alguns já com direito ao reconhecimento do país pela sua larga e honrosa folha de serviços públicos, e ainda, Sr. Presidente, porque à frente do Govêrno se encontra alguém que tem evidenciado, em muitos lances perigosos e difíceis da vida nacional, o seu patriotismo e uma capacidade política absolutamente invulgar. Isto, Sr. Tamagnini Barbosa, representa uma homenagem que pode ter pouco valor, mas que tem êste: a de partir dum indivíduo que tem mantido toda a vida, livre e íntegra, a sua consciência moral.

Registo com prazer as declarações do Govêrno, de que procurará ser o continuador da obra de Sidónio Pais, obra