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26 Diário das Sessões do Senado

que são declaradamente monárquicos oficiais que afirmam que dão apoio à República só emquanto não fôr assinada a paz — não merece nenhuma confiança ao regime. Pela minha boca falam todos os republicanos.

Emfim: o Sr. Presidente do Ministério seguirá o seu caminho e o povo seguirá o seu. Veremos quem vence.

Tenho dito, Sr. Presidente.

O Sr. Carneiro de Moura: — Sr. Presidente: decorre a sessão para a apresentação co Ministério. Eu, para não antecipar julgamentos e aguardando os actos ministeriais, não tenho senão que fazer referencias agradáveis, e dizer que me são gratas as relações que mantenho com o Sr. Presidente do Ministério. O Sr. Tamagnini Barbosa é um homem de acção, e de todos os outros Srs. Ministros, tenho ema boa impressão, impressão que vem das suas qualidades. S. Exas. não terão politicamente um passado, mas são homens de valor, e julgo dever dizer-lhes que sôbre êles impende uma grave responsabilidade.

Corra-se perigo, e o grito de alerta não diz respeito apenas a S. Exa. os Ministros. Di-lo a todos nós portugueses, que devemos empregar esforços para a salvação comum.

Os romanos, quando por toda a parte os bárbaros os invadiam, ameaçando de morte o império, banqueavam-se com bacantes, entretidos na inconsciência duma fatal imoralidade. E todos sabem o que sucedem aos bisantinos quando os turcos otomanos chegaram às portas de Constantinopla; aqueles, descuidados e neles, entretinham-se com discussões bizantinas... Quando os ameaçava uma fatal ruína, mais só dilacerávamos gregos do oriente, numa feroz luta intestina.

Nós, portugueses, é necessário que compreendamos bem a gravidade de hora presente e que saibamos que o momento não é para que se julgue que a República pede ser só a que cada um ten na sua cabeça. Res Publica, qualquer que seja o nosso credo político, filosófico ou religioso é a causa da pátria portuguesa.

Faliram políticamente os Estados na Europa? Faliram tais como antes da grande guerra existiram; e até os já que faliram económica e financeiramente; faliram pelos malfadados arranjos políticos dos politicantes...

O político pode existir como um técnico com uma função dinâmica, mas só como tal se justifica a sua existência. A política, como sciência e como arte, tem de visar à cooperação de todas as classes, para eliminar os parasitas e para proteger os desgraçados e os fracos.

O político politicante, o que faz leis e as executa à vontade do freguês, para satisfazer a voracidade da clientela, a que se referiu ainda há pouco um Sr. Senador o douto juiz do Supremo Tribunal de Justiça, que agora, não vejo presente, — êsse é necessário exterminá-lo.

É necessário, portanto, Srs. Ministros, visto que têm como Presidente do Ministério um homem do honra — e S. Exas. todos o são — que façam bem êste sacrifício pela sua Pátria: administrem, não para satisfazer clientelas, mas para salvar a Pátria em perigo. Basta de delapidação dos dinheiros públicos! Há certamente grave avaria na nossa máquina política.

Nós não nos podamos entender bem, porque já fizemos uma monarquia híbrida e depois da queda da monarquia tambêm não coubemos procurar na República uma, organização condizente com as tendências da nossa nacionalidade.

Assassinam-se chefes de Estado; depõem-se outros e a nossa vida pública continua cada vez mais intranquila. Há, portanto, que procurar as origens desta anomalia. Há muito que andamos fora das nossas tradições, dentro das quais devemos realizar as conquistas do progresso para bem das classes trabalhadoras.

Nos séculos XII, XIII, XIV e XV conseguidos uma organização política e administrativa de carácter socialista, e fomos grandes, ricos e felizes dentro dêsse socialismo cristão, que é a nossa maneira de ser histórica.

Ainda hoje em várias localidades do Minho, Trás-os-Montes e Beira assim se vive em equilíbrio, apesar das más leis que os políticos de Lisboa lhes têm querido impor.

Depois, nos séculos XVI, XVII e XVIII, com a formação das monarquias cesaristas, pervertemos a, tradição da lei das sesmarias e do nosso regime cooperativo