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Sessão de 13 de Janeiro de 192 í

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a sua mais plena e enternecida aprovação.

Sala das sessões da comissão de finanças do Senado, 30 de Novembro de 1920.— Herculano Jorge Galhardo — Ernesto Júlio Navarro — Celestino de Almeida— Constando de Oliveira —Artur Octá-vio .Rego Chagas — Rodrigo de Castro, relator.

Posto à votação, foi rejeitado.

É lido e posto em discussão o seguinte

Projecto de lei n.° 542

Senhores Senadores. — Durante o longo período da grande guerra, por notícias repetidas chegadas até nós, soubemos que a Mulher de todas as nações em luta, continuando a elevar-se pelo sentimento — quantas vezes superior ao raciocínio — praticou actos de valor, abnegação, piedade e ternura, que mais direito lhe dão à nossa consagração e ao nosso amor.

Em Portugal, desde a santa. Cruzada das Mulheres Portuguesas às madrinhas de guerra, às senhoras da festa da flor e principalmente às enfermeiras que nos hospitais de sangue suavizaram as febres, as dores e as saudades aos que se bateram a centenas de léguas da Pátria, em Portugal, dizia, também a Mulher não desmereceu das suas nobilíssimas tradições de sempre. Agora nos paramos da guerra, as suas mãos patrícias e as suas doces palavras de consolação foram os únicos alívios morais para os sofrimentos dos filhos da nossa terra que pelo Direito, Civilização e Humanidade se bateram com o valor indomável que em tempos idos nos deu jus a sermos cognominados na História do mundo de povo de heróis.

Entre as mulheres que lá fora mais se distinguiram, oferece-nos em primeiro plano e salientemente a ilustre actriz e escritora Conceição Marques Grheldère (Mercedes Blasco) pelos seus relevantes serviços prestados como enfermeira e pela firme decisão de não querer trabalhar como actriz para recrear o inimigo da sua Pátria, substituindo assim a auréola de celebridade, artística pelo nimbo do sofrimento. E que em ânsias altivas de patriotismo e rasgos audaciosos de altruísmo arriscou na Bélgica invadida, no período de maior terror, quando todos os dias se faziam execuções bárbaras, o bem--estar, a tranquilidade, a liberdade e até

q própria vida, resignando-se a uma po-ureza nobilíssima, para não cantar para os inimigos do direito, como ela nos diz no seu último livro: Vagabunda.

Servindo na Cruz Vermelha, e sendo da maior dedicação e piedade para os pobres feridos, logo que soube que os seus compatriotas tinham ido tomar parte no conflito mundial, fez todos os esforços para sair da Bélgica, com a idea de ir para as ambulâncias dst, frente, mas não lhe foi possível realizíir esse empreendimento. Tendo porôm notícia de que os nossos soldados estavam hospitalizados na Academia de Belas Artes, transformada em hospital da Cruz Vermelha, apresentou-se aos directores, Srs. Marechal e Dr. Inyers. Era uma grande obra de caridade, diz ela, levar aos pobres exilados palavras de consolação na própria língua.

A sua piedosa obra é documentada em fotografias e confirmada em cartas de diferentes militares reconhecidos e ainda por este ofício do sub-chefe de estado maior:

Corpo Expedicionário Português. — Q. Z.-C. — K. L —N.° 89 —Ex.a Sr.a — S. Ex.a o General Comandante do Corpo Expedicionário Português, tendo tido conhecimento do interesse que a V. Ex.a mereceram os prisioneiros portugueses da guerra que estiveram hospitalizados em Lie-ge, encarrega-me de transmitir a V. Ex.a o seu reconhecimento pelo caridoso serviço de assistência que se dignou dispensar-lhes.

Saúde e Fraternidade. Em campanha, 8 de Março de 1919.— O sub-chefe do estado maior, L. Ferreira Martins.—A ilustre artista Mercedes Blasco.

Depois deste sucinto relato custa a dizer que esta patriota, insigne artista de teatro — a nossa comediante mais ilustrada— escritora, poetisa e poliglota, ao chegar à sua Pátria não teve a menor manifestação de justiça e de gratidão! Empobrecida, em grandes dificuldades para viver, querendo trabalhar, continuar a sua gloriosa carreira, não encontra empresa que a escriture.

Não se comenta.