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Sessão de 10 de Marco de 1921

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O comércio marítimo mundial faz-se por um grande sistema circulatório, em que as grandes artérias são as grandes carreiras de navegação. E, assim como as grandes artérias pressupõem e implicam a existôncia doutras de ordoni iníerior, também as grandes carreiras de navegação dependem doutras carreiras, com os meios do circunscrição de ordem secundária. Efectuadas por barcos de grande to-nola-gem, as grandes carreiras de navegação só podem fazer-se pelos grandes portos. Mas a importância mesma dos grandes portos tem de ser, em grande parte, aumentada e mantida pelo comércio feito pela verdadeira teia cie vias de comunicação de ordem inferior e pela parte de ordem secundária que as ser vem e que estabelecem e constituem, por assim dizer, a sua esfera de acção. E, se isto é assim cm toda a parte, tambôm tem do o ser em Portugal, ondo a rêdo forro-viária é ainda rudimentar e onde a hipsometria do país se opõe à abertura de canais de navegação e ondo os rios são ta m limitadamente na-vegávis e onde, portanto, a pequena cabotagem tem de ter sempre peculiar importância.

O velho porto interior da Figueira da Foz, cujas modestas condições o reduzirão sempre a porto de terceira ou quarta ordem, uma vez melhorado, não só estará, pois, longo do ameaçar os interesses dos portos de Lisboa e de Leixões, mas-antes, pelo contrário, lhes alargará o domínio, sondo para ambos, pois que do ambos eles ó quási equidistante — um excelente subsidiário o auxiliar. E a navegação de comércio de longo curso em pequenos navios de pesca, tanto costeira como longínqua, que por ele se deverá fazer e que, apesar do tudo, se tem feito independentemente daqueles portos, também não é de molde ou natureza a poder assumir importância que afecte a deles.

Antes da grande guorra o porto da Figueira da Foz tinha um movimento anual médio, de importação e de exportação comerciais e do pesca de bacalhau em navios que mandava à Terra Nova, que se computava om um pouco menos de 20.000 toneladas, com tendência para diminuir om consequência das crescentes dificuldades de navigabilidade do porto cada vez mais assoreado e obstruído. A guorra 'veio, por sua vez, reduzir ainda mais e

quàsi aniquilar este comércio e ainda também destroçar a flotilha de pesca de bacalhau que este porto aparelhava já em 1914, em número do 26 navios. Mas, em compensação, fez ressurgir a velha indústria da construção naval, havia ainda anos abandonada, sendo certo que, nos últimos cinco anos os estaleiros da Figueira da Foz enriqueceram a marinha mercante nacional com navios no valor de alguns milhares de contos e vai intensificar a pesca costeira da sardinha pela adopção dos novos processos da pesca a vapor, determinando a fundação da indústria da conserva deste peixe naquela cidade.

Actualmente e apesar do inteiramente subsistirem o até agravadas as dificulda* dês de navegação e acesso do porto, se o comércio se. mantém reduzida, a flotilha de pesca do bacalhau tendo a reconstituir-se, tendo já em 1920 ido aos bancos da Terra Nova 7 navios da Figueira da Foz, c estando já a preparar se, para irem em 1921, outros em maior número.

Se o porto da Figueira da Foz, pola execução de convenientes obras de direcção e protecção da sua barra, e do regularização e desobstrução do seu interior, com os devidos equipamentos, só tornasse acessível, como ó facilmente possível, à navegação regular de barcos de 2:000 a 3:000 toneladas ou de 15 a 16 pés de calado, ao menos, tornar-se-ia, como deve ser, imediatamente um excelente pequeno porto comerciante de pesca, com um movimento seguro nunca inferior a 150:000 toneladas por ano. Com efeito a sua situação, interland, e já hoje excelentes linhas férreas, assegurar-lhe-iam tal movimento.

Por ele entrariam imediatamente algumas dezenas de milhar de toneladas do carvão para satisfazer as necessidades da linha férrea da Beira Alta (cerca do 12:000 toneladas), da Figueira, de Coimbra, Leiria, das Beiras, etc., e por ôle -sairiam, em contra-partida, os toros de pinheiro que todos os navios carvoeiros tomam om retorno, sendo de ponderar que a Figueira da Foz é o centro da mais rica o próspera região florestal do País.