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Sessão de 27 de Abril de 1921

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Em Linda-a-Pastora, António Isidoro Gravata, industrial de panificação, tem duas debulhadoras, moinho, forno e padaria, sustentando uns 100 operários.

Aproveitando o facto de se haver despedido o íorneiro, mandou consertar o forno e suspendeu por isso o fabrico de pão.

Sabendo-se disto no Comissariado dos Abastecimentos, foram ali no sábado ameaçar o proprietário de que fariam a apreensão do trigo e o prenderiam... não se sabe bem porquê.

Realmente, como ele não desse importância ao caso, supondo que naquilo havia apenas um excesso de zôlo fiscaliza-dor, continuou as obras sem tomar qualquer medida.

Fez mal.

Devia ter escondido o trigo, porque, passados três dias, isto é, na segunda-íeira, quatro fiscais entraram-lhe em casa apreendendo-lho o trigo, inclusive o grão destinado à sementeira e levaram-no pre-"so para o Governo Civil, onde está num calabouço li á três dias!...

Uma voz :—

O Orador:—Naturalmente queriam ver . se se explicava.

Como se tratava de moinho, talvez houvesse quem pensasse na máquina. (Risos).

É assim, Sr. Presidente, vemos a fazenda, o dinheiro, a liberdade e o bom nome de um cidadão, à mercê .dos poderes discricionários do Comissariado dos Abastecimentos, que ó uma instituição ile-galíssima.

Não pode ser!

Urge providenciar!

l, E com o azeite o que se tem dado ?

Fantástico também.

Há dias, necessitando azeite a cantina da guarda fiscal-do Porto, dirigida pelo ilustre tenente-coronol, Sr. Graça Ferreira, oficial distintíssimo, honesto, legalista e devotadíssimo republicano, procurou adquiri-lo no distrito de Évora.

Mas, respeitador das leis e das. ordens oficiais, só quis negociar o azeite depoig de preencher todas as formalidades legais.

Obtendo as respectivas guias e a devida autorizarão do delegado dos abasteci-

mentos no norte, cujo original aqui tenho e pode ser examinado, devidamente assinado e chancelado, a cantina negociou o azeite e entregou o sinal exigido.-

Pois não obstante ter cumprido todas as disposições em vigor, quando o azeite estava para sair, o comissariado geral, numa ordem despótica, arbitrária, absur da e de uma retrospecção revoltante, proibiu que o azeite seguisse para o Porto.

Mas sobre azeite há ainda melhor do que isto. Há pouco um nosso ilustre colega desta Câmara contou-me este facto verdadeiramente inverosímil, mas que S. Ex.;i garante.

Há dias uns empregados no Comissariado dos Abastecimentos requisitaram em certa terra da Beira Baixa uns cascos de azeite manifestado pagando-o ou para ser pago, ao preço da tabela.

Pois esse mesmo azeite foi oferecido a 5$ a um negociante de Lisboa, que, por acaso, era o mesmo a quem fora requisitado, e que os vendedores ignoravam. . Risos.

A respeito de azeite dizem-se tantas cousas que as anecdotas se contam e alastram por esse país como as nódoas do mesmo óleo ao caírem se espalham e salientam em tecidos de valor.

Mas não é só com o azeite que factos repreensíveis se dão, representando também incúria, incompetência e inabilidade.

Afirma-se —e lá me foi garantido por um fiscal dos abastecimentos que interroguei— que deixaram apodrecer mais de 500 contos de batatas, cuja arrecadação custara 40 contos, preço por que foi arrendado um barracão para esse fim.

Veja isto a Câmara: 000 contos, além do mais, havendo tantas tragédias de fome por esse país fora, por esses bairros pobres,.por essas trapeiras de míseros.

Afirma-se também que há muito arroz deteriorado. Já o disse a imprensa, e esta afirmação, como as outras, não se desmentem, antes a toda a hora as ouvimos confirmar.

Com a manteiga, outro género tabelado e racionado, quási o único que hoje faz conservar as bichas, também se dão casos estranhos e inexplicáveis.