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Diário das Sessões do Senado

se executa no Comissariado dos Abastecimentos, basta que lhes leia este comunicado in?erto nos jornais, sob a epígrafe e sub-epígrafe «A questão da manteiga. Pedem-se providências».

«A Empresa Industrial de Lacticínios Limitada, tendo nos seus armazéns 4:400 quilogramas de manteiga a apodrecer, devido ao Sr. Comissário dos Abastecimentos não a ter requisitado nem autorizado a sua voada, pregunta qual é o critério com que há-de proceder para evitar prejuízos e ao mesmo tempo que o público tenha:ide consumir um género deteriorado. Em poder dalgumas firmas suas associadas existe ainda também manteiga que já veio em Dezembro próximo passado e espera do mesmo modo que o Sr. Comissário se lembre de autorizar a sua venda.

Chamamos a atenção do público e do Sr. Ministro da Agricultura para o desleixo e incompetência com que eui S. Roque se tríilam destes assuntos.-— Pe]a Empresa Industrial de Lacticínios, Limitada, o gerente, António Cardoso Rebelo.

(Segue o reconhecimento)».

Vejam bem: segue-se o reconhecimento. Quere dizer, o homem assume a responsabilidade do que_ publica, o que nos leva a acreditar na veracidade desta revelação .

Se não fosse exactamente verdc-deira, com os poderes que tem ou toma o comissariado, nem alma se aproveitaria ao reclamante, porque, como já disse, aquela ilegalíssima autoridade tem na sua mão a nossa liberdade, a nossa fazenda e o nosso dinheiro!

E com o açúcar?

Ah ! com o açúcar, em que entram em scena as refinarias, contam-se factos verdadeiramente extraordinários e imorais.

P rã a província ninguém apanha um quilo de açúcar pelo preço da tabela.

As autoridades da província chegam com as respectivas requisições. No comissariado imediatamente, com uma diligência e amabilidade dignas de todo o elogio, passam as guias e ordens para certa refinaria fornecer o açúcar. O portador, muito satisfeito e dizendo com os seus; botões—| muito se calunia nesta terra!— vai fazer o depósito do dinheiro e espera...

Espera, sim, espera uma semana, uni mês, dois meses, espera sempre, sempre, e o açúcar pago nunca é fornecido. Desculpas e mais desculpas, e o ingénuo conta o caso a um amigo ou conhecido, que logo o esclarece:

— Não o apanhas sern dares por baixo de mão boas luvas na refinaria. Experimenta. Fala, seja com quem for, nas fábricas de refinação e verás.

Seguido o conselho, pagando, pelo menos, mais 100 por cento, o açúcar é-lhe fornecido imediatamente, dizendo:

— É que para a província, só se fornece do que subra a Lisboa e Porto, e a este é por favor.

Lembra aquele anedótico caso do tenente. Eu conto para amenizar um pouco estas agruras e tristezas parlamontaros.

Um tenente de certo regimento do Algarve, coo numerosa família, via com muito pesar que os impedidos não lhe paravam em casa. Uma. vez, quando muito satisfeito por o impedido já se demorar quinze dias, Cste dirige-se-lhe, pedindo humildemente para voltar ao serviço do quartel.

— O quê, homem?! Queres-te ir?! Porquê?! Então não estás satisfeito? ! O trabalho é pouco, tratamos-te bem e damos--te tudo que sobra...

— Sim, meu tenente, realmente dão-me tudo q Lie sobra, mas.. .

— Míis quê?

-7-Mas não sobra nada ! ... (Risos].

E c que acontece nas refinarias com o açúcar para a província:— vai o que sobra de Lisboa e Porto,, mas não sobra nada! (Risos}.