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Diário das Sessões d* Senado

Estava consumado o nosso desprestígio. Mesmo cedendo, precisámos dar aos chinas o espectáculo triste da nossa fraqueza.

A canhoneira inglesa como que lhes gritava: «não lhes batam porque eles são fracos...».

E de então para cá, nunca mais só pôde trabalhar a sério nesse local.

Sr. Presidente: fomos nós que, há mais de quatro séculos, descobrimos, por assim dizer, a CMna; fomos nós que durante muitos séculos tivemos o privilégio de comerciar com o povo chinês, "foi connosco que, durante muito tempo, os chineses se entenderam para conseguir o extermínio de piratas e bandidos que o imperador da China, com toda a sua força, não conseguira eliminar; e agora, apenas por imposição duni Governo revolucionário de Cantão, abdicámos dos nossos direitos de soberania numa parte do território de Macau, e fizemo-lo por conselho da nossa aliada a quem prestámos serviços incalculáveis durante a Grande Guerral...

Este precedente ó terrível, meu senho-resj principalmente adoptado na China, porque os chineses, embora pelo tratado de 1887 nos tivessem reconhecido o nosso direito à posse de Macau e suas dependências, contestam-nos o sentido qne nós damos à palavra «Macau».

O negociador do tratado nunca obteve a afirmação de que tínhamos domínio efectivo em toda a península; e é sabido que os chineses afirmam que só temos direito à parte velha da cidade. E, de resto, uma afirmação ridícula e absurda; mas é sempre uma afirmação...

Não estamos, portanto, livres de que amanhã — frutificando este exemplo, nos apareçam 4:000 homons às portas de Macau, e, com a útil mediação da qualquer nação estrangeira pode muito bem a China conseguir que desistamos do nosso domínio sobre o resto da península»

j Seria o fecho da bela obra que a nossa diplomacia encetou agora l...

Mas, tendo nós abdicado dos nossos direitos sobre uma parte importante das águas do porto interior, poder-se-ia supor que ficámos ao menos cem o resto. Não senhor, não ó assim. O governador de Macau, continuando a entabolar negociações com o Governo de Cantão, conseguiu obter que fosse firmado um novo

acordo que deixa de parte o que existia desde 1890.

A portaria n.° 314, do governo dessa nossa colónia traduz bem uma parte desse acordo.

Por esta portaria, segundo a minha maneira do ver, prescindimos dos nossos velhos e autênticos direitos sobre as águas todas do porto interior.

Já, devido aos bons ofícios da nossa aliada, tínhamos perdido uma parte delas ; agora perdemos o restante.

Fica estabelecido que os barcos chineses podem atravessar livremente as águas do porto sem precisarem pedir licença ao governo de Macau, e podem fundear, abicar e querenar nas margens da Lapa sem autorização da capitania do porto.

Corre, portanto, Macau um constante perigo com a existência de tropas chinesas fundeadas no se^i porto. E perde o nosso país o seu melhor argumento na contestação da posse da Lapa: o domínio absoluto nas águas do porto interior.

De resto, fizemos a vontade à China. Tem d que sempre quis: liberdade de trânsito, internacionalização do rio, confissão de que não ternos razão para chamar nosso & tudo aquilo, cessão dos nossos direitos sobre a Lapa, sujeição de Macau e surpresas fáceis, tanto pelas que podem provir da Lapa, como das que resultarão da permanência de barcos de guerra chineses nas águas do porto!... j E, a troco destas vantagens, concede a China que Portugal possa fazer as obras do porto onde quiser! ;0ra, Sr. Presidente, parece-me que isto é conceder muito pouco para quem obteve tanto e tam bom!