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Sessão de 29 de Abril de 1921

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mós um instrumento que só a nós nos traz obrigações. ;E nem, ao menos, aproveitámos a oportunidade de obtermos uma definição de porto de Macau! Essa definição — que é essencial— ó que muito incomodaria a China. Obtê-la, sem prejuízo nosso, será difícil; e, por isso, ficou... para outra vez.

Pensar-se há, Sr. Presidente, que. desde que Portugal permite que os barcos chineses possam passar com tropas, ó porque o porto lhe pertence, é seu. Deveria ser assim realmente, Sr. Presiden- . te, e sê-lo-ia de facto se se tratasse doutras nações que não fossem a China. Desde que os barcos chineses passem muitas vezes seguidas nas águas do porto, passarão os celestes a considerá-las suas. Está no seu. carácter, no sou temperamento. E em pouco tempo dirão que sempre tiveram o direito de passar pelo lado que lhes convém, que é o lado junto à Lapa. E o mal que resulta de se não ter feito a definição do que seja porto de Macau. Porto, para nós, ó tudo, e para eles é, evidentemente, ó que fica a leste do talveg. \0 acordo referir-se há... só ao nosso lado!... E1 daqui advirá, Sr. Presidente, que a China se julgará, em pouco tempo, com direito à posse definitiva da Ilha da Lapa.

Mas a nossa infelicidade, meus senhores, não pára por aqui. Cometemos um pecado. O Governo de Macau jogou uma cartada.. . . e perdeu. Perdeu ele ... e' perdemos nós, Macau e o País.

Deu-se a circunstância de que o Governo de Cantão era um governo revolucionário, um governo que estava em luta aberta com o Governo de Pequim, não lhe reconhecendo soberania.

E ó o Governo de Pequim quem mantém as relações com as chancelarias estrangeiras.

Pois, apesar do tudo isto, firmou-se um. -acordo com um governo revolucionário!...

E é justo e humano que assim seja,.se é verdade que existem desinteligências entre esses dois grandes agrupamentos, Cantão e Pequim, o que é facto ó que toda essa gente está unida quando se trata de relações com países estranhos.

O ódio ao estrangeiro está na sua alma muito acima das suas paixões e das suas lutas internas.

V. Ex.as certamente não "desconhecem o movimento formidável que se desenvolveu na China, há talvez ano e meio, quando, depois da guerra, como desforço a certas violências, se pretendeu prejudicar comercialmente o Japão. Não sé entendiam uns com os outros, os chineses, mas ligaram-se admiravelmente para a execução da guerra comercial mais temível e mais interessante de que há memória: o boi/cot das mercadorias japonesas."

A populaça, em toda a parte, tanto em Pequim, como em Cantão ou Tien-tsin, entrava nas lojas e atirava para a rua o que encontrava —por vezes objectos de raro valor— queimando tudo ou despedaçando tudo no meio de um alarido aterrador! E impediu assim que o Japão negociasse com a China. E, embora em menor escala, este ódio é latente contra os restantes estrangeiros. Estão sempre unidos quando pretendem prejudicar o comércio europeu ou americano.

Não admira, portanto, repito, que, havendo nesse acordo qualquer vantagem para Cantão, que ó o mesmo que dizer para a China, o Governo de Pequim se apresse a reconhecer essa parte do acordo; mas se, por acaso, alguma vantagem houvesse para nós portugueses, poderíamos ter a certeza absoluta de que ele, o Governo de Pequim, não reconhecia essa parte do acordo.

E a prova disto, Sr. Presidente, está naquela entrevista que o jornal A Imprensa de Lisboa, creio que no seu primeiro número, anuncia ter tido com o Ministro da China sobre a questão das obras do porto de Macau.

Disse esse Ministro que o seu país nunca consentiria, nem consentirá, que as obras do porto se façam antes de ser feita a delimitação do território de Macau.