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Sessão de 12 de Março de 1924

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prezo dos interesses daqueles que ingenuamente acreditaram na invulnerabilidade de tam alto Poder.

Aos Transportes Marítimos do Estado sucedeu a mesma cousa, com a diferença que a vítima era a Nação Portuguesa.

O juiz, que.naturalmente desejava também ficar em Lisboa, foi nomeado em comissão para fazer esta sindicância. Aparecem certamente flagrantes provas da mais ruinosa administração ; reconhecem como relapsos aqueles funcionários que assaltaram como numa encruzilhada a frota mercante do Estado, porque ato a opinião pública os condenava como a maior Falperra dentro da República e os jornais os acusavam em letra redonda sem receio de desmentido.

Pois bem! O juiz sindicante esteve o tempo que quis a apurar estas responsa-,bilidades, embora o mandato imperioso de uma revolução como a de 19 de Outubro determinasse que fossem urgentemente liquidadas para salvaguarda da moralidade do regime a essa hora -já tam divorciado dos costumes honestos da grande maioria da República.

Mas extintos os bons princípios do ou-tubrismo, vem um outro Governo que dá imediatamente ao Sr. Nunes Ribeiro, o maior dos responsáveis nesta Falperra, aquele que mais erros cometeu, o seu antigo lugar de rendosa comissão nos altos da serra de Monsanto,

Em vez de se mandar para o porão dum navio expiar as suas culpas e aguardar o veridictum da justiça, mandam-no para o alto da serra de Monsanto para que possa recrear-se, ouvindo os concertos de Londres pela radiotelegrafia.

O Sr. Nunes Ribeiro, que se pavoneia ainda nas recepções do palácio do Sr. Presidente da República e que é encontrado em todas as festas da elite do País, continua no trabalho de convencer o público de que as suas proezas de director dos Transportes Marítimos do Estado merecem a sua consagração como político e oficial da armada.

O Sr. Nunes Ribeiro, com a complacência do Poder Executivo e sobretudo dos Ministros do Comércio, de parçaria com outros delinquentes parece ter conseguido que o volumoso processo de sindicância fosse escondido na gaveta de qualquer alto funcionário, S3u protector ou

amigo e simultaneamente obteve que os ofícios que acompanhavam esse processo fossem somente abertos devido à energia, patriotismo e forte fó republicana do Sr. Nuno Simões.

Isto de alienar a frota marítima, de a entregar à mão de particulares para a explorarem como desejam e certamente com todo o interesse para a economia nacional, será efectivamente o melhor desejo das pessoas incriminadas na administração da frota marítima do Estado, porque «morto o bicho desaparece a peçonha.

Eu . acho também, incontestavelmente, melhor tratar-se de alienar de vez esses navios roubados, já que o estado republicano não soube encontrar em 7.000:000 de portugueses do continente e ilhas adjacentes quatro ou cinco cidadãos capazes de bem governar a frota mercante do Estado.

Apareceu o Sr. Nunes Ribeiro com os seus galões de oficial superior da armada. Apareceu para presidente do conselho de administração outro oficial da armada o contra almirante Sr. Macedo e Couto. E disseram os portugueses: aqui estão os salvadores da Pátria e das batatas, aqui •estão os salvadores da frota marítima do Estado.

E querem agora todos esses salvadores e comparças um enterro de primeira classe com a proposta de lei n.° 557. Não. Não pode ser.

Aqueles que são responsáveis por essa capciosa administração hão-de ser chamados à barra dos tribunais.

Veja, Sr. Presidente, como a capacidade dos dirigentes era há dois anos apreciada pela totalidade dos jornais que se publicam em Lisboa, e dos quais fui paciente leitor e coleccionador. • O Diário de Lisboa de 2 de Dezembro de 1922 diz: