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Diário das Sessões do Senado

Assim é que a Companhia dos Tabacos deve uma enorme quantidade de libras, e o Governo ainda a não forçou a pagar.

O Banco de Portugal está fora da alçada da lei, e o Estado não tem a força precisa para o meter na ordem.

A maior parte dos políticos portugueses estão envolvidos em negócios, com companhias e empresas, e não têm a força moral para se levantar contra tais entidades.

Não foi impunemente que os homens da propaganda, Afonso Costa, António José de Almeida, Augusto de Vasconcelos, Afonso de Lemos e tantos outros, fizeram a República em 1910. S. Ex.asde novo deviam ir defender nos comícios à entrance os ideais republicanos.

Hoje, quem nos governa são os detentores da alta finança, do grande comércio e da grande indústria. São também os adesivos que nos tempos dos partidos regenerador, progressista e franquista eram simples e meros regedores de aldeia.

Evoco o talento de Alexandre Braga, a sua palavra de grande tribuno, a que na Câmara dos Deputados ouvi chamar à monarquia «uma falperra de manto e coroa».

Por minha vez agora, eu, pigmeu da oratória, declaro que a Éepública é defendida por gananciosos.

Mas não se tem feito nada disso, nem se pode fazer, porque o Go/êrno está manietado pela alta finança e é defendido pelos neo-republicauos.

Nós vemos que é mandano para a legação de Londres um homem como o Sr. Dr. Augusto de Castro, que foi licenciado pela moagem por seis meses, para ir ser o representante da Eepública Portuguesa em Londres!

Veja-se isto, Sr. Presidente!

(j Onde está a sinceridade republicana, onde está o carácter da Nação?

Sr. Presidente: ao menos que uma voz se levante contra tudo isto. embora ela não seja escutada dentro do seu partido, embora essa voz seja amanhã expulsa dos grandes partidos organizados da Eepública.

O Sr. Dr. Álvaro de Castro organizou um Governo sob os melhores auspícios. S. Ex.a apenas encontra da .parte do Partido Nacionalista, pela voz do respectivo leader, o Sr. Dr. Augusto de Vasconce-

los, uma oposição medíocre. Mas deste lado da Câmara, S. Ex.a recebeu aplauso unânime, e aquele que mais se salientou na solidariedade governamental, fui eu, eu que vi na presidência do Governo um homem com talento, com um passado republicano e capaz de dar uma lição ao partido que havia abandonado', o Nacionalista.

Acompanhei o Governo convencido de que ele havia de pôr tudo na ordem.

Mas três, quatro, cinco, seis meses são passados e vemos as cousas no estado em que estão.

Agora encontra-se o Governo em face duma questão de disciplina.

O apoio que falta ao Sr. Presidente do Ministério é o do povo; essa é que é a questão. Não tenha S.. Ex.a ilusões:- não se deixe seduzir pelo canto da sereia do Sr. Ministro do Interior.

Deve o Sr. Presidente do Ministério convencer-se de que o seu colega do Interior se tem divorciado cada vez mais " do povo republicano; e assim, deve desviá-lo do Governo não deixando de olhar para outras pastas, cujos colegas não o têm, acompanhado bem.

O Sr.. Álvaro de Castro pode presidir a um Governo e pode realizar a sua obra dentro da República. Mas sempre sozinho.

Precisa-se de um Governo Republicano, que não venha vexar uma classe com um decreto sidonista.

Não houve a coragem de rasgar a legislação sidonista, e o Sr. Ministro da Guerra vai aplicar a um oficial republicano de sempre um decreto sidonista.

Mas pouco importa, porque dentro do meu partido o Sr. Malheiro Reirnão ainda é capaz de ir às cadeiras do Poder repetir actos que praticou como secretário de Estado do Sr. Sidónio Pais.

Isto assim irá, até que um dia a consciência republicana diga: «Basta»!

Preciso fazer uma declaração, porque não é, esta, naturalmente, a última vez que falo nesta casa.

Sou republicano, e .fui-o sempre; nenhuma ditadura há que tenha o meu aplauso, e qualquer situação que venha depois do Sr. Álvaro de Castro não será uma situação constitucional. Pois bem: declaro que aceitarei essa situação seja ela qual for.