O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Diário da$ Sessões do Senado

Para governar .não basta ter o apoio dum partido; é necessário contar com a simpatia e benevolência da'opinião pública.

Ora o Grovêrno çlo Sr. Kodrigues Gaspar não reúne nenhum destes, requisitos. Dispõe dum fraco, apoio parlamentar e duma oposição sistemática, declarada, irredutível, da opinião pública.

Portanto, um Governo que não satisfaz aos requisitos que ennumerei não pode servir Q país com aquela solictiudé e com aquele zelo que seriam para desejar.

Também S. Ex.a prestava um serviço ao seu partido, porque as dissidências Intimas, que a imprensa tem relatado nos últimos tempos, agravaram-se considerà-velmente pela circunstância de S. Ex,a ter sido chamado ao Poder a organizar Governo. E disso uma manifestação clara é evidente a propaganda qne o Sr. José Domingues dos Santos anda fazendo por algumas terras do país.

Estou absolutamente convencido de que, se em vez de ser chamado ao Poder o Sr. • Rodrigues Gaspar, s.e tivesse encarregado cie gerir os negócios públicos uma alta individualidade da República, que eu sempre me habituei a respeitar desde os bancos da Universidade, e que através da. vida sempre tenho considerado como um dos primeiros patriotas e republicanos, nada disso aconteceria.. Quero referir-me ao Sr. Bernardino Machado, que faria desaparecer as dissidências no Partido Re-publicano Português.

Também se me afigura que. iS. Ex.a prestava um relevante serviço aos seus correligionários, deixando-os ficar na obscuridade de simples, funcionários públicos. E que a situação de Ministro honorário dum país, importa obrigações pela vida fora.

Um Ministro honorário não pode, por exemplo, tomar um lugar de 3.a classe num caminho de ferro, não se pode alojar numa estalagem, não pode acompanhar com pessoas com quem poderia conviver se não tivesse sido Ministro, etc.

Em minha opinião, era muito melhor, S. Ex.a o Sr. Bodrigues Gaspar nào ter organizado Governo fossem quais fossem as razões que S. Ex.a apontasse para isso. S. Ex.a tinha ass.im prestado ura alto serviço ao país. e aos seus correligionários.

Parecerá estranho que eu venha dar

conselhos ao Sr. Rodrigues Gaspar, mas S. Ex.a já procedeu de forma igual.

O caso não é único; se S, Ex.a se tivesse aproveitado, não digo deste expediente, inas deste meio, era a segunda vez que assim tinha procedido. Após uma larga discussão sobre o Convénio ou modus vivendi com o Transvaal, o Sr. Rodrigues Gaspar, conforme consta do Diário das Sessões, n.° 82, de 15 de Maio de 1923, S. Ex.a deu parte de doente, e nessa sessão ò Sr. Presidente do Ministério, o Sr. António Maria da Qilva, fez a repetida declaração.

JSIada há mais natural, Sr. Presidente, para um homem do que adoecer e não poder continuar no exercício das suas funções oficiais.

Mas o que é de estranhar, o que nada é parlamentar, é que esse Ministro após a sua doença, que acredito fosse verdadeira, nunca mais sê julgasse habilitado ]3ara responder a uma interpelação do Sr. Álvaro de Castro. Tive o cuidado de ler quási todos os Diários das Sessões que se seguiram à de 15 de Maio e vejo sempre nas colunas reservadas aos que faltam o nome do Sr. Rodrigues Gaspar.

Ora, se o Sr. Bodrigues Craspar se tivesse socorrido deste processo —e quem há que não tenha uma doença para justificar a impossibilidade de formar gabinete, não só o país tinha lucrado mas até o próprio Sr. Bodrigues Gaspar nada teria perdido.