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Sessão de 25 de Julho de 1924

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O Sr. Vasco Marques:—Depois de ter falado o ilustre leader do Partido Nacionalista, a que tenho a honra de pertencer, fiz-me inscrever para a resposta à declaração ministerial, o que evidentemente significa que se a brilhante oração do meu correligionário e presado amigo Sr. Augusto de Vosconcelos me satisfez como político, não me desobriga, todavia, de aquilo que considero um dever pessoal.

É, pois, e no meu nome individual e sob a minha única e exclusiva responsabilidade que ora falo.

Antes, porém, de me referir ao actual Ministério e à sua declaração, eu quero falar do Governo transacto que, tendo já desaparecido, bem pouco ou nenhum interesse disperta, porque nós vivemos num País em que, mais do que nenhum outro, quási todos se voltam para o sol que nasce, procurando desfrutar-lhe o muito ou pouco calor, para depois voltarem-lhe as costas quando soa a hora da desgraça.

Discordei absolutamente da formação do Governo Álvaro de Castro, tanto, e de tal modo que foi desde então que, com mágua, deixei de acompanhar este ilustre homem público.

E,. Sr. Presidente, tendo nesse Ministério dois dos meus mais queridos amigos, nunca os visitei em seus Gabinetes, como nunca lhes solicitei favor algum, nem' a qualquer dos seus colegas, o que me deixa agora perfeitamente à vontade e com força moral para me referir ao Governo transacto,, porque as minhas palavras, nesta hora em que já não pode fazer favores, não serão nem de ataque, nem do ironia, mas de simples justiça, até mesmo porque necessário ó pôr termo à triste e inglória tarefa de andarem os republicanos a desacreditar-se mutuamente.

Sr. Presidente, eu pregunto: £Íez trabalho útil o Sr. Álvaro de Castro?

E cedo talvez para fazer a crítica serena da sua obra; mas é simples justiça reconhecer-lhe, mesmo em meio dos seus erros, a preocupação firme de pôr um forte entrave ao descalabro financeiro em que nos vimos arrastando, o que lhe valeu, sem dúvida, o ataque venenoso dos colossos da finança, que nunca aparecem de frente, nem desvendam corajosamente seus propósitos, antes alugam quem es-

creva, mascarando seus ruins intentos com o véu da moralidade e da defesa intemerata da causa pública,' pois todos eles procuram inculcar-se como patriotas ardentíssimos.

Por mim, reputo absolutamente sincero o propósito do Sr. Álvaro de Castro, em restaurar as finanças portuguesas, muito embora fosse um erro formidável o pretender consegui-lo tam somente com redução de despesas e agravamento de impostos, pois estas duas medidas, aliás indispensáveis quando aplicadas com são critério, têm de ser acompanhadas doutras de autêntico fomento, que, valorizando a agricultura, o comércio e a indústria, proporcionem trabalho remunerador e compensações atraentes a todos quantos queiram, com proVeito legítimo, aplicar a sua actividade e os seus recursos.

Mas, Sr. Presidente, apesar desse erro, não é favor reconhecer que o Sr. Álvaro de Castro iniciou a parte menos simpática da administração pública, com o propósito de bem servir o País, desbravando, portanto, o terreno ao actual Ministério.

Sr. Presidente: desde que me referi ao Governo transacto, eu quero dele destacar dois nomes para render-lhes as minhas homenagens.

Refiro-me aos Srs. Sá Cardoso e Américo Olavo.

O ex-Ministro do Interior comprovou mais uma vez os peregrinos dotes do seu carácter e os primores da sua educação, exercendo com energia, mas também com isenção as suas árduas funções, não perseguindo nem vexando quem quer que fosso, nem descendo àqueles processos re-gedoriais que, tendo constituído uma mácula na monarquia, têm sido também uma vergonha para a República.

E lamento, Sr. Presidente, que fosse nesta Câmara, sempre tam ponderada e meticulosa, que o Sr. Sá Cardoso se sentisse ferido na sua honorabilidade.

Se eu estivesse presente, teria junto com muito prazer os meus protestos aos dos ., demais Senadores, porque conheço muito de perto o Sr. Sá Cardoso e sei que ninguém o excede em escrúpulos de honradez.