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Diário dat Sessões do Senado

O Sr. Presidente:—É a hora de se entrar na ordem do dia, e pediram a palavra para explicações o Sr. Ribeiro de Melo e Artur Gosta.

Consulto o Senado sobre se permite que estes Srs. usem da palavra.

Foi concedido. ''

O Sr. Ribeiro de Melo: — Sr. Presidente: as minhas primeiras palavras são de agradecimento para os meus colegas, por me terem permitido que usasse da palavra.

Efectivamente, não podia ficar debaixo da impressão que me causaram tam sábios e ponderados conselhos, como aqueles que acabo de receber do Sr. Ministro da Justiça.

Há palavras que se gravam no coração, que sensibilizam extremamente e que fazem com que me curve e de alma ajoelhada agradeça ao Sr. Ministro da Jus tiça as advertências que se dignou dirigir-me.

Mas, Sr. Presidente, o Sr. Ministro da Justiça, na sua resposta, parece-me ter envolvido também o Sr. Pereira Osório, que julgará, por certo, sensatos e extraordinariamente benéficos para a disciplina partidária os conselhos do Sr. Catanho de Meneses, Ministro da Justiça.

Como nas palavras do Sr. Ministro da Justiça apenas julgo ver sinceridade e lealdade, com essa lealdade e sinceridade respondo, dizendo a S. Ex.a, ainda que muito me pese, que tenho razões de sobejo para assegurar ao Sr. Ministro da Justiça que pode tranquilizar o Sr. Rodrigues Gaspar, Presidente do Ministério e Ministro do Interior.

S. Ex.a não tem elementos nenhuns dignos de respeito e de atenção para julgar qae a ordem pública esteja para ser alterada.

Preguritou-me o Sr. Ministro da Justiça porque não digo à Câmara em que me baseio para afirmar que o Governo não tem motivos para pôr de prevenção as tropas ou a guarda republicana e a polícia.

É que quero que se volte ao regime monárquico, porque então a união de todos os republicanos seria um facto, e todos por um iriam defender as instituições republicadas de 5 de Outubro.

Se a sinceridade republicana fosse um. facto, não tínhamos como primeiro Minis-

tro da República, em 1924, um antigo filiado do Partido Regenerador Liberal;' não tínhamos como primeiros Ministros senão criaturas estruturalmente republicanas, cujo passado não merecesse a menor insinuação da opinião republicana, nem o desrespeito dos seus concidadãos.

Mas se a sinceridade se tivesse perdido ainda a encontraríamos nas pessoas que estão no Ministério.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior, que apenas se dedica a Ministro das Colónias, aparece como Ministro do Interior e como dirigente da vida política do país e da política nacional, sem competência para isso.

E para este desvio de competências e desvio àe aptidões, que vai toda a minha crítica e a de todos aqueles que, como eu, mantêm sempre a sua independência; só admito a disciplina partidária em casos absolutamente necessários para a consagração da República e manutenção das instituições e defesa da Pátria.

Tudo o mais é comesinno; serve apenas os interesses de meia dúzia, que andam apostados em converter a República de 1910 nas últimas fases da monarquia, do governo de D. Carlos e de D. Manuel .

Q,uando tiver que atacar o diretório do meu partido, o lugar mais próprio não é o Parlamento. Portanto,. S. Ex.a sabe já que eu não posso receber de S. Ex.a senão um conselho de amigo e não uma lição política, porque desde os verdes anos que sou político com o mesmo desejo de bem servir a minha Pátria e também. Dservir e dignificar a República, e, como sou republicano e patriota, quero Governos republicanos e patriotas. V. Ex.a é efectivamente um bom republicano, mas nego a qualidade de pessoa mais indicada no meu partido para servir como devia a pasta do Interior o actual Presidente do Ministério, porque S. Ex:a ó absolutamente ignorante em assuntos dessa pasta, para ser conhecedor da pasta das colónias.

Eis a razão, portanto, Sr. Presidente, da minha irreverência e insubmissão.