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Sessão de õ de Novembro de 1924

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as instalar, mas o que eu quero é que haja um modo de proceder igual, justo; agora dar a uns e não dar a outros, não pode ser, e é esta a única razão que me leva a não votar o projecto do Sr. Manuel Gaspar de Lemos respeitante à Figueira, porque, pregunto: ^em que condições eu ficaria perante o Porto deixando com o meu voto aprovar-se unia cousa destas para a Figueira, e não ser votada para o Porto cousa idêntica?

Eu concluo as minhas considerações, lamentando que realmente a República não tenha tido pela instrução aquele carinho que deve ter, porque para mim a base fundamental da República, e sobretudo do seu futuro, está na instrução.

É com magoa que eu vejo o que são as gerações que nos hão-de suceder; é uma lástima, pela sua educação mal orientada; e foi por isso que eu disse, no princípio destas minhas breves palavras, que ela tem sido má em qualidade»

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Tomás de Vilhena:—Não sei se o Parlamento estará lembrado de que eu, apesar de estar neste lado da Câmara, fui um dos defensores da escola do Porto.

Aprovo também agora o projecto relativo à Escola Industrial da Figueira.

Não é pelo desenvolvimento do ensino que se há-de arruinar a República.

O mau estado financeiro em que se encontra, não provém de desmandos financeiros que tenha praticado na instrução do povo.

A instrução pública tem-me sempre a seu lado e o meu voto será sempre de maneira a favorecê-la e defendê-la.

Estou na lógica porque sempre o proclamei.

Se querem fazer progredir e levantar um povo, eduquem-no e instruam-no.

A República, infelizmente, não tem feito mais do que comprometer o ensino nacional por todos os modos e feitios.

Em primeiro lugar, com programas e reformas de resultados desastrados que não têm feito senão complicar e tornar difícil o ensino, desorientando, por completo, umas poucas de gerações de estudantes.

Hoje qualqupr indivíduo que queira matricular um filho numa escola superior, precisa ser rico»

Torna-se quási impossível aos desgra-çados filhos do povo educarem-se e instruírem-se, embora tenham aspirações, inteligência e qualidades para isso.

Em tempo, um homem que veio depois a representar um papel importante na República, dizia-me que este e outros males de que eu me queixava desapareceriam quando se proclamasse a República, mas sucedeu exactamente o contrário: nunca a instrução esteve tam fora do alcance do povo, e por isso, nunca a ordem social esteve tanto em peíigo a todo o momento.

O orador não reviu.

O Sr. Herculano Galhardo:— Não esperava ter de entrar neste debate, mas vê-, jo-me obrigado a fazê-lo pelas considerações que vi produzir.

Ninguém ignora a campanha que se tem feito contra o Parlamento.

Ela é menos baseada nos erros do Parlamento do qu© propriamente na forma como se discute no Parlamento.

Se neste se discutisse mais serenamente, com mais cabeça e menos coração, es= tou certo que o Parlamento ganharia, porque assuntos como este não se podem discutir com paixão, e quanto menos se discutir com paixão, melhor será.

Mas o discutir-se com paixão originou este fenómeno singular, que é o vermos a propósito deste projecto um incontestável republicano e um monárquico de todos os tempos igualarem-se na forma como defenderam o projecto.

O Sr. Gaspar de Lemos discutiu com paixão, porque tem razão.

Nenhum de nós o pode negar.

O Sr. Tomás de Vilhena discutiu também com paixão, aproveitando o momento para se servir das palavras de um republicano, e para agredir, com a habilidade que lhe conhecemos, a sua inimiga, a República.

O Sr. Gaspar de Lemos tem razão.

E um republicano de valor, um grande amigo da sua terra, que já lhe deve serviços.

Todos estamos de acordo em que não deve haver economias em instrução, e uma democracia deve fundamentar-se no desenvolvimento da instrução»