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Diário das Sessões ao Senado

Sr. Presidente: não me importa saber neste momento se tenho dotes para isso, basta saber e sentir, ter coração de português para chorar e lamentar a perda nacional, basta que me chegue aos lábios o que o coração me diz.

Não serei brilhante, mas serei sincero.

Sr. Presidente: parece-me que foi há dois dias que nós fomos aqui surpreendidos quási, pela notícia de que dois oficiais da marinha de guerra portuguesa tentavam realizar a travessia do Atlântico.

E o que ó certo é que nós sentimos hora a hora, momento a momento, uma inquietação extraordinária, porque eki era uma misturr. da esperança de ver realizar a travessia do Atlântico, esse glorioso voo, e o receio tremendo de que um desastre os perdesse.

Por um poder sobrenatural de v is Só, nós seguíamos a aeronave que vogava entre duas imensidades, a imensidade da água e a imensidade dos céua, percorrendo o seu roteiro brilhante e luminoso.

Tam pequena ela era e tam grande se tornou, que no estreito âmbito da sua car-linga podia suportar seis milhões de portugueses porque ela consubstanciava a alma da Pátria Portuguesa.

E quando tínhamos a notícia de qualquer desastre temíamos pelo desastre irremediável de 'se perderem os nossos queridos aviadores.

O que é certo é que esse ponto minúsculo que singrava pela imensidade era extremamente fulgurante e brilhante e quando, mais tarde, nós soubemos que essa avesita insignificante tinaa pousado na baía do Guanabara, todos nós respirámos com alegria imensa e a Dlenos plu-mões, perante a glória que sobre todos recaía.

Sacadura Cabral tinha feito o mais formidável voo de águia que tem sido constatado pela histó.ria:

A águia, apesar de majestosamente dominar os píncaros mais elevados das montanhas, também um dia, alvejada pelas balas traiçoeiras, morre; mas ' quando morre não se confunde com o mocho que cai da altura de alguns metros. Não! Ela ainda na morte é majestosa e, quando cai, é na profundeza dos abismos.

Foi o que aconteceu a Sacadura Cabral. Morreu em plena glória e, se a sua morte é lamentável, temos de reconhecer qie

ioi a única morte digna e possivelmente desejada por ele, pois 'que morreu no seu posto de honra, no seu posto de militar e de aviador.

Já ouvi lamentar que não aparecesse o sen cadáver, para se lhe prestarem as homenagens devidas.

Não o lamento eu porque não ó a humanidade que podia fazer um túmulo condigno para a heroicidade desse grande marinheiro, que tam bem sabia dominar o mar. O único túmulo condigno para ele é exactamente esse mar com as suas algas verdes que certamente cercam o grande morto nesta hora.

É um túmulo grande, belo e majestoso, como grande, bela, majestosa e formidável erarn a sua audácia, o seu sangue frio e o seu amor pela Pátria.

Sacadura Cabral foi grande até na morte porque, morrendo como ele morreu, teve ainda como que um prémio da sorte.

Associo-me comovidamente à homenagem, que esta Câmara lhe presta, quer nas palavras pronunciadas, quer na votação que vai fazer-se isôbre a proposta de lei vinda ,da Câmara dos Srs. Deputados. As 3 o cio-me, quer como Senador, quer como português, não esquecendo que, em-, bora a Constituição diga que represento aqui, não os colégios eleitorais que me elegeram, mas todo o povo português, sou de uma região de homens rudes do mar que, de alguma forma, têm pontos de contacto com Sacadura Cabral. Particularmente, em nome desses marinheiros, presto homenagem ao grande aviador Sacadura Cabral e ao mecânico Pinto Correia, que com ele imortalizou o seu nome.

O Sr. Vicente Ramos: — Eni nome dos Srs. Senadores independentes agrupados, associo-me também comovidamente à manifestação prestada à memória do heróico aviador Sacadura Cabral.

Dou o meu voto à proposta de lei em discussão.

O orador não reviu,