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Cessão de 11 e 12 de Dezembro de 1924

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O Sr. Bulhão Pato: — Não tencionava até há pouco tempo usar da palavra neste debate, e isto porque ajustando-se precisamente ao meu pensamento as palavras do ilustre leader do meu partido, Sr. Ca-tanho de Meneses, nada tinha a acrescentar ou a contrapor a essas palavras.

Porém, na sessão de ontem levantou-se um incidente que me obriga, dada a minha qualidade especial de ter pertencido ao anterior Governo, a fazer uma declaração.

Eu, em face desta moção de confiança ao Governo, moção repudiada pelo Sr. Silva Barreto, encontro-me na obrigação de dizer alguma cousa.

Pertencendo ao anterior Governo, mal parecia que eu votasse uma moção que envolvesse censura a esse Governo.

Diz a Escritura que Cristo ofereceu a outra face depois de ter recebido uma bofetada, mas não nos diz o que teria acontecido se a bofetada se repetisse. Ora eu não sou Cristo.

Como membro do anterior Governo recebi uma bofetada em cheio, dada pelo actual Presidente do Ministério. Não lhe ofereci a face para nie dar outra bofetada, evidentemente. Mas, pondo acima de tudo os interesses da Pátria e da República, entendo que neste momento só tenho uma cousa a fazer perante este Governo, que de facto está constituído nos termos da Constituição e até .nos termos da nossa lei partidária: é aprovar sem qualquer restrição a moção de confiança apresentada.

Em minha consciência entendo que é esse o caminho que devo seguir.

Apoiados da esquerda.

Não digo que a moção tivesse sido oportunamente apresentada.

Não lhe chamarei importuna, como afirmou o meu ilustre colega Sr. Silva Barreto, embora reconheça que ela não foi oportunamente apresentada. Sei que ela foi apresentada nas melhores intenções, e, desde que foi apresentada, a minha obrigação é aprová-la. " Era esta declaração que eu queria fazer.

Vozes da esquerda: — Muito bem.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (José Domingues dos San-

tos):— Sr. Presidente e Srs. Senadores: antes de tudo quero apresentar a V. Ex.a, Sr. Presidente, em meu nome e em nome do Governo a que tenho a honra de presidir, os melhores cumprimentos.

E a primeira vez que tenho a honra de falar nesta Câmara depois que organi* zei gabinete e depois que V. Ex.a mais uma vez, e pelo voto creio que unânime da Câmara, foi novamente elevado a esse alto cargo.

E isso para mim motivo de muita satisfação e de muito orgulho, porque é V. Ex.a um dos Senadores pela minha terra, terra essa que tem revelado saber escolher os homens que manda ao Parlamento.

Quero assim prestar homenagem a um velho republicano, como uma das mais altas figuras da República. Faço-o com tanto maior gosto quanto é certo que neste momento se sentam nas cadeiras do poder os homens mais novos da República. Aqueles que porventura pensem que nós por sermos novos temos qualquer parti-pris contra o's que já o não são, quero assim significar que nós somos novos pelas ideas que expomos e que nisso V. Ex.a vai à nossa frente.

Sr. Presidente: quando antes de organizar gabinete corria algumas terras do Norte espalhando um pouco daquilo que era meu pensar sobre a forma de Governo em Portugal, agitando as massas republicanas, tantas delas já descrentes das virtudes da República, eu sentia e ouvia algumas pessoas dizerem: «{mas, afinal, palavras, palavras e só palavras!» E eu pensava para comigo : «