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Diário das Sessões do Senado

um alto fundo de justiça, fica a meu ver prejudicado pela falta de relatório que fornecesse esclarecimentos justificativos da sua aprovação, e também para de futuro se poder conhecer a aplicação que tiveram esses dinheiros.

Ignoro quem são os indivíduos que compõem a comissão administrativa do novo hospital de Lisboa, assim como desconheço quais são os seus processos administrativos e qual a forma como eles desempenham as suas funções.

É claro que, nestas circunstâncias, não tenho elementos para poder julgar, nem apreciar da forma como eles vão proceder, sendo todavia certo, corno muito bem expôs o Sr. Costa Júnior, que acerca deste assunto devem ser ouvidas as organizações no número das quais se devem incluir os sindicatos profissionais, a fim de que duma íntima colaboração entre aqueles que necessitam de colocar-se e o Estado, e duma união entre os interesses dos operários e os interesses do Estado, se possa prestar um serviço ao País que mereça aprovação geral e ao mesmo tempo seja a consagração da idea do Sr. Ministro do Trabalho.

A propósito de hospitalização de alienados, de que falou e muito bem o Sr. Augusto de Vasconcelos, devo também fazer algumas considerações, embora muito sucintas.

Os nossos estabelecimentos hospitalares são uma verdadeira desgraça.

Tecnicamente podem estar muito bem organizados.

Ninguém contesta a competência dos seus directores, nem dos médicos que trabalham nas enfermarias, nem ainda do seu pessoal.

Mas na parte administrativa é uma verdadeira miséria.

Quem utiliza em Portugal os hospitais são, ao contrário do que sucede em alguns países, os pobres, os desgraçados, os infelizes.

São aqueles que, em regra, não se podem tratar em suas casas, pois esses, Sr. .Presidente, se não for a generosidade e benevolência dalguns amigos, se escapam da doença, morrem, de fome.

A maior parte das pessoas que vão para os hospitais tratar-se, quando ao fim dalgum tempo a sorte as protege, podem curar-se da doença, mag o menos que lhes

pode suceder ó saírem de lá tuberculosas.

Há pessoas que têm sido hospitalizadas, e famílias dessas pessoas dizem que, se os seus protectores não as auxiliain, elas saem do hospital o a breve trecho estão tuberculosas.

Isto dá-se em todos os hospitais. A co-inida que ali se dá., permita-se-me a expressão, nem para caos serve.

O Sr. Augusto de Vasconcelos (interrompendo) : — Eu fui durante vinte anos clinico dos hospitais, e durante muitos anos director duma enfermaria, ainda hoje o sou, e posso dizer a S. Ex.a que os seus informadores não f oram" justos.

O Orador: —

Há um hospital, o do Desterro, que nem cozinha tem; a comida, além de não prestar, chega fria.

O Sr. Augusto de Vasconcelos (aparte):— Nessa parte tem S. Ex.a razão, mas com respeito à comida não a tem.

Presto homenagem à grande sinceridade com que S. Ex.a fala. S. Ex.a não foi bem informado, o muito desejaria que S. Ex.a visitasse os hospitais para se capacitar da errada informação que teve.

Os hospitais têm insuficiências, mas essas insuficiências são derivadas de falta de verba; ninguém morre por deficiência de alimentação, e por contágio também 'não é fácil, porque há um hospital próprio para tuberculosos.

O Orador: — Referi-me apenas às deficiências de alimentação. Não serei eu que ponha em dúvida a sinceridade das palavras do Sr. Augusto de Vasconcelos, como S. Ex.a não pôs em dúvida as minhas, in médio virtus. Não serei tam exagerado, mas também não serei tam optimista como S. Ex.a Mas uma cousa é ser director duma enfermaria e outra ser hospitalizado. A .situação é muito diferente.