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16.

Diário das Sessões do Senado

mento não pode ninguém convencer-me de que tivesse tido a sua eclosão única e simplesmente som aquelas unidades, sem compromissos militares ou civis para comparecerem na Rotunda.

A injúria é muito maior, vem já de longe, duma parte da imprensa, daquela imprensa que representa as forças vivas da Nação, corno eles lhe chamam, forças vivas imicame:ut3 para sugarem as últimas gotas de sangue do povo republicano e do povo português, que trabalha desalmadamente para satisfazer a ganância do comerciante e do industrial, e que vêem amparados por políticos que nada tendo a esperar do Partido Republicr.no Português, daqueles que assambarcaram o próprio Governo, daqueles que, assam-barcando a administração da República, julgam ter chegado o momento, ou aproximar-se o momento, de verem a República em toda a sua pureza, em toda a grandeza de pensamentos e de ideais.

Mas a grande maioria, do povo republicano colocou-se ao lado do Governo do Sr. Vitorino Guimarães porque o cartel que se tinha desfraldado nas terras do Parque Eduardo VII não satisfazia às consciências republicanas.

Se outro fora o cartel, tenha V. Ex.a a certeza de que não era o Governo actual que se apresentava ao Senado no dia de hoje.

Era tanta a certeza que os revolucionários tinham de ficar vitoriosos que numa entrevista publicada no Diário de Lisboa de sábado 18 e que toda a população da capital pôde ler, dizia o Sr. Raúi És-tevos, o tal homem da ordem, ao ser interrogado por um jornalista:

1 «Há seis horas que nos estão a dizer que nos vão combater, e até agora só temos recebido adesões».

Vejam V. Ex.as a certeza que tinha o tal «homem da ordem», a quem os republicanos rodearam de honrarias e confiaram, importantes comandos militares, e que ainda há 8 dias tinha dado a sua palavra de honra ao Sr. Presidente do Ministério de que não estava metido em contendas revolucionárias e nem mesmo se meteria.

Afinal apareceu como cogumelo nas terras do Parque Eduardo VII.

E es';a a ocasião de dizer àqueles que tanto acreditaram no Sr. Raul Esteves como homem da ordem, da disciplina, e como o mais alto respeitador das leis, que se defendam desses «amigos», dessas pessoas qae acolitam em regra os Presidentes de Ministério, porque a República não pode ter confiança em quem não sente dentro da alma os princípios republicanos.

Como já disso, não combato o Governo. Defendo-o, e por isso voto, contra a minha consciência republicana, todas as propostas que o Governo traga aqui para abafar os movimentos sediciosos.

O Sr. Presidente do Ministério foi feliz dizendo que os movimentos que partem da esquerda são norteados por um ideal.

Mas as direitas vêm,- tendo os interesses económicos à frente, com o seu desejo de sangue e de ódios procurar esmagar e trucidar toda a alma republicana que ousa levantar-se contra elas.

A República não precisa do, governos das esquerdas, como não precisa de governos das direitas.

A República precisa do governos honestos, que façam política essencialmente democrática e patriota, olhando apenas aos interesses da Nação.

Sr. Presidente: sabe V. Ex." e a Câmara que muitos dos oficiais que hoje os-tsntam as estrelas do general devem a sua situação à República, e entristece e é doloroso constatar q.ue, salvo raríssimas excepções, esses oficiais não apareceram na hoja grave que a República atravessa. para combater os inimigos das instituições.

Bastava para nós figurar nos revoltosos os nomes do Raul Esteves, Filomeno da Câmara e Sinel de Cordes para se nos impor o dever de tocar a unir os republicanos, e os primeiros a aparecer deviam ser os militares, a fim de que o povo os visse e se convencesse de que não estava desacompanhado.

Mas não, Sr. Presidente.

Dezenas e dezenas de oficiais de terra e mar, mas sfobretudo de terra, eu vi confundidos com o povo, vestidos à paisana, precisamente no momento em que a República carecia dos seus serviços.