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920 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 91

outras que tomou a iniciativa de propor - uma «Corporação das Artes e Profissões Liberais», cuja conveniência não necessita ser justificada.

§ 29.º

Considerações ganis

96. Terminamos com algumas considerações genéricas esta longa viagem pela estrada, em construção, do corporativismo português. _ Desbravado o caminho,- atingido o lugar de destino e feita a paragem, resta deixar em repouso as ideias, para que assentem naturalmente, e voltar a percorrê-lo, já com muito maior celeridade, para fixar apenas os pontos cardeais da orientação tomada. É esse o trabalho do «exame na especialidade» e das «conclusões» com que se dará remate ao parecer da Câmara.
Aproveitemos então esta curta paragem para conciliar as ideias, fazer o ponto e deixar subir o pensamento até à altitude suficiente para que os contornos dos pormenores se esfumem e possam ver-se apenas, na sua isolada expressão, as grandes imagens deste caso português.
Não foi por mera coincidência que a Câmara se viu simultaneamente perante duas propostas de lei - uma para «instituição de corporações» e outra sobre um «Plano de Formação Social e Corporativa».
Trata-se, efectivamente, de duas providências complementares. Talvez mais do que isso: uma só providência, concretizada em documentos distintos, porque a sua matéria formal é separada, mas reduzida a um «todo» impartível, já que a sua essência profunda é a mesma.
Na verdade, para nos arrancar do torpor corporativo, dessa indiferença em que nos tínhamos anichado por força duma inércia radicada na falta de estímulo e até por comodismo, é imperativo fazer «formação social e corporativa»: divulgar os princípios, espalhar a verdade dos seus benefícios, promover a disseminação e o esclarecimento da ideia corporativa, mergulhar fundo na estrutura social, doutrinar, formar. Mas toda esta obra de penetração, que pode ser grandiosa mas é árdua e lenta, requer um forte ponto de apoio, para ser iniciada com êxito e vitalidade; exige um grande acontecimento que a desencadeie, que desperte a consciência nacional e a faça estremecer, colocando-a perante alguma coisa de novo que vá passar-se neste país. E, vista assim a questão, tem de concluir-se imediatamente que este diploma sobre a instituição de corporações é parte integrante desse outro que é o Plano de Formação Social e Corporativa.
Por seu turno, a instituição das futuras corporações não pode ser apercebida - em toda a magnitude do acto e nas suas amplas repercussões em profundidade e extensão - sem uma larga campanha que difunda o valor do seu alto significado e prepare os espíritos para uma «viragem» que deveremos iniciar, sob pena de terem sido estéreis tanto ideal esperançoso e tantos esforços ou canseiras.
Tudo seria arriscado sem esta campanha e, outrossim, sem um plano - coordenado, metódico e firme - dirigido a uma consciencialização corporativa, com vista, sobretudo, àqueles que vivem directamente os problemas corporativos ou servem a organização. Serão eles os principais obreiros da construção das corporações, a quem há-de pedir-se fiança solidária na dívida que o País vai assumir para. com o seu destino e perante a história.
Tudo poderia ser vão sem esta campanha ou plano e, mais ainda, sem o estudo sério e metódico de toda a problemática corporativa, nos seus mais relevantes aspectos: sociais, económicos, jurídicos e morais. E porque assim é, o Plano de Formação Social e Corporativa, por sua vez, funciona como parte integrante da instituição das corporações.
Em última análise: simples «partes» dum «todo» complexo, essas duas providências legislativas sobre as quais a Câmara é chamada a pronunciar-se. E desta circunstância há que inferir todas as suas naturais consequências e tirar a lição integral dos ensinamentos que contém.
Ela significa, em primeiro lugar, que andará erradamente quem veja nesta conjuntura portuguesa apenas um novo arranjo das actividades económico-sociais, à guisa de simples ensaio, já que no fundo tudo se passará como antes, pois seria irrisório pensar que as corporações eram capazes de endireitar o Mundo.
Muitos terão na consciência uma ideia assim moldada e fixa; outros, menos descrentes, tê-la-ão no subconsciente, pronta a definir-se; e serão muito poucos os que sentem em toda a profundidade e projecção o que está a passar-se.
Pois bem:
E desses poucos - da sua tenacidade e da sua fé, da sua firmeza de convicções e do seu ideal, do seu conceito duma sociedade mais humana s mais justa - que vai depender em grande parte o sentido e o valor desta segunda arrancada corporativa». É dessa elite porque jamais as grandes obras puderam ser feitas . sem ela - que há-de brotar o caudal de espírito, todo enformado na ideia de justiça social e com a força bastante para dominar, pela qualidade, o turbilhão de interesses materiais que não querem ser perturbados na quietude regalada das posições adquiridas.
Não pode ignorar-se que o corporativismo, com a sua palavra de ordem no social e no económico -e só isto seria muito-, transporta também consiga uma antêntica mensagem de justiça; e, como processo de organização total da sociedade, nunca seria sistema completo quando ela lhe faltasse. Para realizar essa mensagem, «corporizando-a», um dos principais motores há-de ser a corporação -instrumento do corporativismo concreto -, por dar expressão efectiva aos laços de solidariedade entre patrões e trabalhadores, reunindo-os num «corpo», único, onde tem de saltar à vista a sua qualidade essencial de colaboradores numa obra comum.
A corporação deve ser, pois, um agente precioso dessa extraordinária tarefa a empreender para a reforma da empresa, fazendo dela o organismo comunitário -que já o é na essência profunda e a própria Natureza postula- donde possa tirar-se alguma esperança para essa ambição instante de edificar uma ordem mais justa e mais feliz.

Com uma «empresa» onde patrões e trabalhadores, vivendo lado a lado, ainda hoje se desconhecem ou hostilizam não pode haver paz social, porque sai violentada a condição humana e desvirtuado o verdadeiro sentido da vida em comum. Mas a sociedade, o Mundo, parecem viver na ignorância de que o seu equilíbrio instável é na carência desse ponto de apoio que tem o seu principal fundamento. E não virá muito tempo, se os olhos se fecharem a realidade tão flagrante, que uma evolução natural, ainda com condições de viabilidade, se transmude fatalmente e processe em termos revolucionários. A História é tão pródiga nesses exemplos que não permite aos espíritos esclarecidos quedarem-se o naquele engano de alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito».
Talvez sejam só alguns a ver estas coisas que a fortuna não deixa durar muito». Mas chega a ser criminoso não denunciar o perigo próximo, para que a todos sem excepção, mas sobretudo àqueles que têm uma palavra