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50 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 86

África, a Tripolitânia e a Cirenaica (que também se designam com o nome de Líbia), das chamadas Bonificas, que, diga-se de passagem, tanto têm sido discutidas na própria Itália,
Deverá porém esclarecer-se que essa colonização com colonos desprovidos de recursos tem vingado, é certo, devido a causas particulares e também porque tem sido feita ao lado da colonização livre com colonos dispondo de alguns capitais, grandemente protegidos e auxiliados pelo Estado, e da grande colonização capitalista, promovida por grandes emprêsas.
Foi mesmo por estas modalidades que se começou preparando o meio para que a colonização dirigida pudesse ter êxito e para que as colónias pudessem absorver muitos dos sem trabalho da metrópole.

Deverá também acentuar-se que a colonização agrícola tem sido ali precedida e é ali acompanhada de grandes obras e trabalhos de apetrechamento económico, como estradas, portos, caminhos de ferro, pesquisas de águas e aproveitamentos hidráulicos, em que a metrópole tem despendido e despende quantiosíssimas somas.

Se não chove, faremos com que chova . . ., disse Mussolini, referindo-se a algumas dessas obras e às grandes plantações de árvores que se compreendem nos seus planos de colonização agrícola na Líbia 29.

Muitas sondagens geológicas se fizeram de carácter documental, instalando-se mesmo um laboratório geológico para o estudo dos elementos revelados por essas

Num dos últimos planos do Govêrno da metrópole, que compreende a instalação rápida de 1:800 famílias de colonos na Líbia, propõe-se aquele gastar 500 milhões de liras por exercício (cerca de 750 mil contos), e isto durante cinco exercícios.
Esta despesa é para fazer face a «obras de utilidade pública, de bonificação e de equipamento necessárias instalação das famílias e ao lançamento das explorações» 31.

Acentua-se nestas informações que estamos seguindo que se pretende fundar na colónia uma agricultura italiana de carácter demográfico com fins sociais ao lado da outra de carácter industrial com fins eminentemente económicos.

Noto neste, como noutros autores que consultei, o aspecto social, de ordem interna, que impõe ao Govêrno Italiano o recurso à colonização dirigida, feita com colonos pobres e sem recursos.

Isso representa, como é óbvio, para a metrópole c máximo das despesas e dos encargos e também um grande risco.

O Governo Italiano chegou ao ponto de conceder aos seus colonos crédito agrícola sem juro na proporção da extensão das terras que estes valorizassem 32.

Reparo porém, emquanto ao risco, que certas condições particulares dão à Itália, na Líbia, muitos probabilidades de êxito a esta sua política.
Trata-se primeiro do que tudo de uma colónia muito próxima da metrópole.
O custo das viagens é relativamente pequeno, sobretudo se o compararmos com o custo das mesmas para as nossas duas grandes colónias, Angola e Moçambique.
A Líbia, grosso moda, fica, dos portos do sul da Itália, a meia distância da que vai de Lisboa a Madeira ou aos Açôres.
O problema do repatriamento dos possíveis colonos falhados, na Líbia, é pois um problema de reduzidas proporções financeiras em relação ao do repatriamento dos possíveis colonos falhados naquelas colónias.

A proximidade da colónia italiana da sua metrópole faz com que cada colono instalado na Líbia custe à Itália muito menos do que custa ao Estado Português cada colono instalado em Angola.
Em 1929, pessoas autorizadas disseram, quando do insucesso da última tentativa de colonização de Angola, que a instalação de cada família de colonos naquela colónia custava ao Estado 1:000 a 1:200 libras.
E aconselharam a colonização, sim, mas com colonos dispondo de alguns recursos.
Tal como eu.
A libra era então a libra-ouro.
Por outro lado, para a Itália, a questão do repatriamento ou não repatriamento dos colonos falhados da Líbia tem muito menos importância política do que tem para Portugal o repatriamento dos colonos falhados de Angola.

Na Líbia a mão de obra rural tem de ser, em grande parte, constituída por trabalhadores da metrópole.
Isso é possível e é necessário.
Possível porque os europeus podem ali empregar-se em trabalhos de campo, podem mesmo cavar com uma enxada.
Necessário pela repugnância tradicional dos árabes pelos trabalhos mais violentos, o que obriga as autoridades ao recurso, em larga escala, da mão de obra italiana importada para garantir o êxito da sua obra colonizadora 33.
Não há pois perigo em que os colonos falhados continuem na colónia, possivelmente como trabalhadores rurais e das obras públicas.

«Os rudes aldeões da Sicília, Abruzos, Pouilles e da Calábria trabalham ali como sua sua terra de origem» 34.

É este o caso de Angola e Moçambique?

Como se sabe, nas Bonificai os trabalhadores rurais trabalham como assalariados durante alguns anos e arranjam um pecúlio que se destina à compra de uma pequena fazenda, em condições de favor, que o Estado lhes vende. Assim, só se transformam em proprietários os que já têm de seu para perder. E, por consequência, se houver insucesso, os prejuízos não são só para o Estado.
É isto possível e viável em Angola e Moçambique?

António Enes escreveu algures que os que pensam que é possível aos trabalhadores da metrópole cavar com uma enxada na Zambézia, ou nas margens do Incomati, nunca sentiram o sol de África.

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29 Entrevista concedida pelo antigo Ministro das Colónias da Bélgica, Sr. Tschoffen, transcrita no Boletim Geral das Colónias n.ºs 98 e 99, de Agosto e Setembro de 1933.
30 Informação do Messagere, transcrita a p. 125 dos n.ºs 158 e 169 do Boletim Geral das Colónias, de Agosto e Setembro de 1933.
31 Projecto do Duce, segundo um artigo do mesmo jornal e transcrito pelo mesmo Boletim a pp. 126 e 127.
32 Artigo do Sub-Secretário de Estado das Colónias italiano, Sr. Lassona, transcrito no Boletim Geral das Colónias n.° 180, de Abril de 1936.
33 Georges Guyot, L'Itálie devant le probème colonial.
34 Artigo do Dr. Armando Mangini, director do Instituto Agrícola Colonial Italiano, transcrito no n.º 120 do Boletim Geral das Colónias, de Junho de 1935, p. 136.