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23 DE ABRIL DE 1940 53

propulsoras da actividade e do trabalho nacional, na vida e desenvolvimento dessas colónias».
«Os capitalistas seguem os banqueiros, estes o Banco Central e êste o Estado».
«A nosso ver, é esta a grande reforma que as necessidades impõem».

Passaram-se os anos. Vemos o enorme esfôrço da Itália para valorizar as suas colónias, designadamente as da África mediterrânea. Vemos a sua conquista da Abissínia e a política de valorização e apetrechamento dessa sua nova colónia.
Recorre para isso a todas as suas grandes organizações bancárias, o seu emissor, o Banco de Itália, à frente, e aos seus grandes organismos económicos e de trabalho. A moeda é a mesma que na metrópole. Na Abissínia estabelece um regime de transição, que está a findar . . .

Trata-se da orientação que eu aconselhava para Portugal.

Entre nós teve lugar, entretanto, justo é dizer-se, o grande esforço de que resultou o equilíbrio dos orçamentos e o saneamento da administração financeira das colónias. Em matéria, porém, de capitais para a valorização e apetrechamento das mesmas pouco se adiantou.

Faço esta afirmativa sem desconhecer o que nas nossas duas grandes colónias de África se tem tentado e se faz em matéria de crédito agrícola.
Vimos que nas colónias italianas se chegou até ao crédito agrícola tem juro.
Nas nossas duas grandes colónias, taxas de 4 a 6 por cento pau» crédito agrícola são consideradas óptimas e representam um progresso em relação às de 8 e 10 por cento e superiores que ali se faziam.

Em 1936 o então governador de Angola pensou em reorganizar ma colónia o crédito agrícola, o qual, instituído em 1927, servia não aos agricultores, mas para amparo do respectivo pessoal director e assalariado.
Assim o disse o Sindicato Agrícola de Benguela numa representação dirigida ao Ministro Sr. Armindo Monteiro quando da sua viagem a Angola em 1932.

Todo o nosso mal deriva da idea, a que continua agarrada a administração colonial portuguesa, de que o Estado, e só ele, pode promover o progresso das colónias com os fundos da sua tesouraria.

João Belo contou, no relatório que precede o seu decreto n.° 13:648, que Portugal prometeu na Conferência da Paz promover a colonização de Angola e Moçambique por portugueses da metrópole nos mesmos moldes adoptados pelo Govêrno Brasileiro nos núcleos de colonização do seu país para os colonos portugueses.
Propunha-se para isso despender 2.200:000 libras, seja, com a libra a 100$, qualquer cousa como 220 mil contos.

Desta promessa destaca-se o propósito de adoptar em Angola os métodos da colonização agrícola do Brasil.

Julgo-os também os melhores para nós, portugueses.

No Brasil os serviços de immigração e colonização trabalham com economia e apoiam-se nos conhecimentos duma larga experiência.

Em 1930 prometeu-se, numa nota oficiosa, a próxima criação do Banco de Fomento, com um capital inicial de 200 mil contos, que se alargaria mais tarde até 400 mil contos, para consolidar e desenvolver a economia ultramarina.

Era o Estado abalançando-se sozinho a um esfôrço que possivelmente excedia as suas próprias fôrças.
Talvez por isso o Banco de Fomento não tenha sido ainda criado.

Entretanto poderia transcrever algumas passagens de artigos da nossa imprensa do ultramar, lembrando que a metrópole não faculta às suas colónias os capitais de que estas precisam para o seu natural desenvolvimento.

Quando o Ministro Sr. Bacelar Bebiano visitou Moçambique, em 1929, a Associação de Fomento Agrícola daquela colónia, na sua representação, sublinhou êsse facto.
Em 1932, quando Armindo Monteiro visitou Angola, repetiu-se o mesmo clamor. «Esta província está Bem crédito bancário, sem crédito industrial e sem crédito agrícola, disse numa representação a Associação Comercial de Benguela».
E entre as conclusões de uma conferência económica que se realizou na colónia destacou-se a necessidade que esta tinha de capitais e de crédito.

Realmente sem capitais, sem suficientes capitais, como levar a cabo uma obra de colonização agrícola? como promover o desenvolvimento das colónias?

Entre nós disse alguém com espírito, num artigo que resumo, que não era só o bom clima, os colonos adaptáveis e a assistência técnica cuidada que promoveriam o povoamento que todos desejávamos em Angola.
Para isso não bastariam as casas de habitação, as sementes, as alfaias e os subsídios . . .
Seria precisa a criação de um meio próprio. E êsse formá-lo-ia o capital que se dirigisse para aquela colónia 42.

Não será o momento, digo eu, agora que se projecta promover com certa amplitude a colonização agrícola em Angola e Moçambique, por famílias europeias da metrópole, de resolver o problema dos capitais para aquelas colónias?

Por que não há-de associar o Estado, nessa obra de colonização agrícola, algumas das nossas grandes instituições de crédito e também a Companhia dos Caminhos de Ferro de Benguela?

Seria assim maior, com certeza, a garantia de sucesso do empreendimento. Assim se iniciariam também essas instituições de crédito nos negócios de África.

No Congo Belga, onde trabalham vários bancos e instituições de crédito, existe de há muito organizado o crédito agrícola. Em 1931 foi organizado um Fundo temporário, especial, de crédito agrícola destinado a favorecer em particular o incremento de certas culturas. Preconiza-se no entanto, a despeito de tudo isto, a criação de um organismo próprio de crédito agrícola, com* mais largas atribuições, comparticipando nele todos os bancos interessados nas emprêsas coloniais daquela colónia 43.

O que equivale, a dizer a maioria dos bancos belgas.

Sustento que quem trabalha em Lisboa, capital do Império, e aqui faz, em larga escala, operações de crédito interessando à vida do País, deve ser levado pelo

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42 Henrique Galvão, O Comércio do- Porto de 18 de Agosto de 1983.
43 Informação do Boletim de Documentação Colonial, do Ministério das Colónias de França, transcrita no Boletim Geral doe Colónias n.° 180, de Outubro de 1938.